Em artigo enviado ao Jornal da Ciência, Nagib Nassar, professor emérito da UnB, alerta sobre riscos devidos à possível aprovação do eucalipto transgênico pela CTNBio na próximas semanas
Depois do milho transgênico com suas variedades tóxicas e até fatais, chegou a vez deste tipo de transgênico. Nele é introduzido um gene que acelera o crescimento além de outro que confere resistência a antibióticos.
O eucalipto é polinizado por abelhas fabricantes do mel, consumido por milhões de pessoas e fonte de renda de pequenos agricultores. Além de polinizar o eucalipto, elas polinizam outras culturas importantes na alimentação humana no Brasil como frutas cítricas e outras. O eucalipto é a principal fonte de pólen usado pelas abelhas e o mel contém mais de 1% de seu conteúdo feito de pólen. O mel consumido por humanos leva a desenvolver resistência aos antibióticos.
Agrava o perigo o fato de que as abelhas não são seletivas ao visitar flores em busca de néctar , e sua infecção ou reduzido número de sua população, leva a maior risco para todas as culturas polinizadas por elas e dependem de sua polinização para formar frutas e para propagar. A infecção de abelhas afeta a produção nacional de todas as culturas que delas dependem na fertilização e frutificação.
Em todas as ocasiões, inclusive na audiência pública organizada pela própria CTNBio, a empresa fabricante desse transgênico não conseguiu comprovar a sua segurança para abelhas. O MDA (Ministério de Desenvolvimento Agrário) não deixou de documentar essa falha em seu parecer.
O perigo não acaba pois a ameaça do eucalipto continua e se estende pela segurança hídrica do país, pois pelo seu crescimento rápido, ele reduz a rotação da colheita de 4 a 5 anos, e extrai água reservada em bacias hídricas, podendo agravar a crise hídrica enfrentada em diferentes regiões .
Até economicamente o país pode sofrer, pois a produção e a exportação do mel é oriunda principalmente do cultivo do eucalipto. Ele é produzido por milhares de pequenos produtores que têm nessa atividade sua principal fonte de renda. São hoje cerca de 350 mil produtores de mel, sendo 80% deles orgânicos. Com a eventual liberação, e a inevitável contaminação do mel, a exportação de mel orgânico será prejudicada pela rejeição no mercado internacional.
Uma vez autorizado o plantio em larga escala, esse tipo transgênico poderá contaminar outros cultivares de eucalipto não transgênicos devido o seu sistema de polinização alógama predominante e a transferência de seu pólen por abelhas a longa distância. Portanto, o perigo enfrentado pela contaminação do milho e algodão nativo por variedades transgênicas no Brasil e outros países volta mais uma vez a nos ameaçar.
Nagib Nassar é professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).
Fonte: Jornal da Ciência / SBPC, 5140, 19 de março de 2015
Caros leitores.
ResponderExcluirNão é a primeira vez que o Prof. Nassar vem a público externar opiniões que deveriam ter respaldo na genética e no melhoramento de plantas, mas que resvalam para longe da ciência. É o caso das opiniões acima. Falta ciência e sobre informação errada.
Primeiramente, os dados sobre a produção de mel brasileira são em grande parte falsos: ninguém sabe quanto do mel brasileiro exportado é reconhecido como orgânico. Como 82% da exportação foi para os EUA, que nem sequer rotulam os transgênicos, a presença de pólen transgênico não afeta nada o mercado. Além disso, não existe um levantamento de quanto do mel é proveniente do eucalipto. Nas áreas onde se planta esta árvore e apenas se as colmeias estiverem a menos de 1000 m das florestas, o mel terá outra origem. Por fim, o Dr. Nassar esqueceu de mencionar que o mel tem que ser centrifugado para ser vendido ou exportado e que isso retira quase todo o pólen. É espantoso que o Dr. Nassar afirme que 1% do mel é pólen!
Quando o Dr. Nassar envereda para a avaliação de risco, os erros se tornam mais graves: desenvolvimento de resistência a antibióticos nas abelhas e nos consumidores, morte das abelhas pelo consumo do pólen transgênico e por aí vai, tudo sem a mínima base científica nem qualquer apoio experimental. Ao contrário, há farta literatura e excelentes experimentos feitos pela PUCRS, que provam a segurança do pólen e do mel de eucalipto transgênico para as abelhas.
Falha seriamente o Professor quando tergiversa sobre o consumo de água do eucalipto GM e conclui que provavelmente vai agravar a escassez de água do país. Toda planta de crescimento mais rápido tende a consumir um pouco mais de água, mas daí a se tornar um ralo hídrico é uma imensa diferença.
Em resumo, é frustrante ler de um Professor Emérito tamanho rol de incorreções. A lástima maior é que os leitores, vendo seu CV, acreditam no que ele escreve e isso atrapalha notavelmente a discussão profícua e sensata sobre os transgênicos.