Com mais da metade das pescas mundiais esgotadas e um terço dos ecossistemas marítimos mais importantes destruídos, o Dia Internacional da Diversidade Biológica, celebrada nesta terça-feira, se concentra na situação dos oceanos.
O brasileiro Braulio Ferreira de Souza Dias, secretário-executivo do Convênio sobre a Biodiversidade Biológica – organismo da ONU – e responsável pelo Dia Internacional da Diversidade Biológica, disse à Agência Efe que 2012 é um ano essencial para a vida marinha.
“A biodiversidade está sob pressão em todos os ecossistemas de nosso planeta. Em geral, podemos dizer que o excesso da exploração comercial das pescas mundiais é grave”, afirmou o especialista. O brasileiro ainda falou que mais da metade das pescas mundiais está esgotada e um terço foi dizimado. “Há a estimativa de que entre 30% e 35% dos meio-ambientes marítimos críticos foram destruídos”, destacou Dias.
O panorama exposto por Dias mostra que o lixo plástico segue matando a vida marinha, e a contaminação cria áreas de águas litorâneas quase sem oxigênio. “Houve também o aumento do uso de combustíveis fósseis que afeta o clima global, fazendo a superfície dos oceanos mais quente, o aumento do nível do mar e da acidez dos oceanos, com consequências que só agora estamos começando a entender” disse.
Censo da Vida Marinha – Um elemento chave nesse trabalho de entendimento do futuro dos oceanos é o Censo da Vida Marinha (CVM) finalizado em 2010. O documento foi realizado por milhares de cientistas de todo o mundo em uma década e concluiu que os mares do planeta contêm entre 500 mil e 1 milhão de espécies (6 mil descobertas pelos pesquisadores do CVM), mais que qualquer outro ecossistema da Terra.
Jessee Ausubel, diretor de programas da Fundação Alfred Sloan (EUA) e um dos dois criadores do CVM, disse que a saúde dos oceanos será crítica na próxima geração. “A gestão do meio ambiente marinho segue 100 anos atrás do terrestre. Se não reduzimos rapidamente a destruição dos oceanos, assim como os hábitos e costumes causadores, a situação será trágica em uma geração”, disse.
No mesmo sentido, Dias ressaltou que o maior problema para a biodiversidade é o modelo de consumo atual. “Podemos dizer que a biodiversidade está em risco por um modelo de consumo e produção que não avalia a biodiversidade. Isto será ainda mais evidente com uma crescente população mundial e os efeitos da mudança climática”, afirmou.
Patricia Miloslavich, professora titular do Departamento de Estudos Ambientais da Universidade Simón Bolívar de Caracas, uma das principais cientistas do CVM, disse à agência Efe que “os oceanos de países latino-americanos enfrentam as mesmas ameaças que o resto do mundo”.
Patricia destacou alguns problemas como o excesso de pesca, a perda de habitat, a contaminação, o aumento da temperatura e a invasão de espécies não nativas. No entanto, a cientista venezuelana também disse que graças à CVM foi estabelecida a rede Sarce (Grupo de Pesquisa Sul-Americana em Ecossistemas Costeiros). De acordo com ela, a iniciativa é um avanço na integração científica regional que poderia trazer bons frutos em curto prazo.
São em iniciativas como a Sarce que Dias e o Convênio sobre a Biodiversidade Biológica colocam suas esperanças. Dias considera que, embora ainda haja muito a ser feito, é importante destacar que muitos países estão dando um passo à frente e estabelecendo redes de áreas protegidas para assegurar a preservação das espécies marinhas.
Ron O’Dor, chefe cientista da CVM, explica que quando as espécies são protegidas, se recuperam, mesmo que lentamente. “Mas temos que fazer mais esforços para lidar com a poluição marinha, a pesca insustentável, pressões sobre habitats como recifes de coral e aumento de CO2 na atmosfera”, destacou. (Fonte: Portal Terra)
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