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terça-feira, 22 de maio de 2012

Pesquisa constata que o alecrim-do-campo (Baccharis dracunculifolia) absorve arsênio e pode proteger solo e água em áreas de mineração


Técnicas geralmente usadas na recuperação de solos contaminados por metais pesados são caras, destroem a paisagem e podem afetar a saúde de pessoas diretamente envolvidas. Uma estratégia alternativa é a fitorremediação, que consiste na utilização de plantas que removem ou diminuem a presença de elementos nocivos ao ambiente. No caso de áreas de mineração como em Nova Lima, onde solo e águas superficiais e subterrâneas apresentam alta concentração de arsênio provocada pela escavação de rochas, a solução pode estar no alecrim-do-campo (Baccharis dracunculifolia).

“Diferentemente da maioria das plantas, que não toleram o arsênio em altas concentrações, o alecrim-do-campo absorve e imobiliza o elemento em sua raiz, o que evita a ingestão por insetos, que se alimentam de suas folhas, e por pessoas que usam a planta com fins medicinais”, explica Lívia Gilberti, autora de dissertação de mestrado que constatou que a espécie sobrevive a níveis muito altos de arsênio no solo.

Interessada em estudar possibilidades de fitorremediação na região do Quadrilátero Ferrífero, que tem na concentração de arsênio no solo (mais de 8000 mg/kg) um grave problema ambiental, Lívia percebeu que o alecrim-do-campo cresce de forma bem distribuída em área minerada de Nova Lima e partiu da hipótese de que a planta é especialmente tolerante. Coletou amostras do solo e de tecidos da Baccharis dracunculifolia, espécie já conhecida dos pesquisadores do Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade, do ICB. A espécie, nativa e colonizadora de ambientes perturbados por alterações antrópicas, apresenta grande capacidade de crescimento natural e ampla distribuição, características que a credenciam a integrar projetos de recuperação de solos contaminados.

Estudos foram desenvolvidos também em laboratório para comparação com a situação do campo: Lívia germinou sementes de alecrim e, depois de dois meses, sempre controlando fatores ambientais, aplicou arsênio no solo, em diferentes concentrações. “As plantas em contato com concentração elevada de arsênio cresceram menos, apresentaram manchas avermelhadas em algumas folhas e alterações na distribuição de nutrientes. Mas o alecrim cresce e se reproduz, ou seja, é tolerante ao arsênio”, afirma a pesquisadora. Ela ressalta que o alecrim usado em laboratório pode ser menos tolerante ao arsênio que as plantas observadas no campo, pois é provável que nessas áreas contaminadas já tenham ocorrido alterações genéticas na espécie.
Replantio

Depois de novas pesquisas que ajudem a entender os mecanismos de tolerância ao arsênio em B. dracunculifolia, o replantio poderá ser recomendado com o uso de exemplares que já apresentam mais resistência. “A exploração mineral tradicionalmente provoca intensa degradação ao meio ambiente. Além de remover a camada vegetal, do solo e rochas, ela acelera a liberação do arsênio nos solos e cursos d’água”, diz Lívia. Essa degradação, argumenta, torna imperativa a reabilitação das áreas impactadas pelas atividades da mineração, restabelecendo a cobertura vegetal do local minerado para corrigir ou diminuir os impactos provocados e evitar a contaminação de pessoas que vivem próximo a essas áreas. “Para isso, é importante que se lance mão de uma espécie nativa, que não vai alterar a paisagem e as características das áreas afetadas. O alecrim tem também a vantagem de ajudar a evitar a erosão e a lixiviação do arsênio no solo”, conclui Lívia Gilberti.

Mineração é a principal fonte de arsênio

O arsênio é um elemento abundante na crosta terrestre. Ele é naturalmente introduzido no ambiente a partir de erupções vulcânicas e do processo de erosão das rochas. Outras atividades aceleram sua liberação na natureza, já que, por exemplo, compõe fórmulas de herbicidas, inseticidas e conservantes de madeira. Mas a principal fonte de arsênio são as operações de mineração, que o expõem à água e ao ar, solubilizando-o e facilitando a contaminação de águas e solos.

As pesquisas de Lívia Gilberti encontraram mais de oito mil mg/kg de arsênio nos solos de áreas próximas a depósitos de rejeitos de mineração em Nova Lima, e outros estudos na mesma região já detectaram altas concentrações do elemento em águas superficiais e subterrâneas que ultrapassam o limite permitido para consumo humano, que é de 10 µg/L.

A exposição crônica ao metal aumenta o risco de várias formas de câncer (sobretudo de pele, pulmão, próstata e bexiga) e provoca hiperpigmentação da pele, doenças gastrointestinais, cardiovasculares, pulmonares, reprodutivas e neurológicas. A intoxicação continuada por arsênio é responsável por milhares de mortes em todo o mundo.

Dissertação: Potencial da espécie nativa Baccharis dracunculifolia DC (Asteraceae) para uso na fitorremediação de áreas contaminadas por arsênio
Autora: Lívia Gilberti
Orientador: Geraldo Wilson Fernandes
Programa: Pós-graduação em Biologia Vegetal
Defesa: 24 de fevereiro de 2012

Matéria do Boletim UFMG Nº 1767 – Ano 38, publicada pelo EcoDebate, 22/05/2012

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