Após uma série de manifestações contrárias, com protestos dentro do Riocentro, líderes de ONGs e ambientalistas apresentaram hoje a carta “O futuro que não queremos”, uma crítica formal ao documento da Rio+20. O documento é assinado por personalidades do setor como o cientista Thomas Lovejoy, a ex-senadora Marina Silva, a ativista Severn Suzuki, e o diretor-executivo do Greenpeace Kumi Naidoo.
Na carta, assinada por líderes de vários setores na condição pessoal, é reclamada a falta de ambição e de comprometimento com as gerações futuras.
“O Futuro que Queremos não passa pelo documento que carrega este nome, resultante do processo de negociação da Rio+20”, inicia a carta. “O futuro que queremos tem compromisso e ação, e não só promessas. Tem a urgência necessária para reverter as crises social, ambiental e econômica e não postergação. Nada disso se encontra nos 283 parágrafos do documento oficial que deverá ser o legado desta Conferência. O documento intitulado O Futuro que Queremos é fraco e está muito aquém do espírito e dos avanços conquistados nestes últimos 20 anos, desde a Rio-92.”
Durante apresentação da carta, em uma sala lotada do Riocentro, ambientalista criticaram o documento final que será assinado pelos chefes de Estado, que foi negociado com a liderança do Brasil. “A Rio+20 está se tornando na verdade a Rio-20. Nós não podemos aceitar este documento, pois ele não traduz o que nós queremos que aconteça, no tempo que aconteça, para salvar as gerações futuras”, disse Kumi Naiddo.
Camilla Toulmin, economista britânica e diretora do International Institute for Environment and Development (IIED), criado há mais de 40 anos, afirmou que ao olhar o documento ficou alarmada. “Depois de quatro anos de crise econômica, eu esperava dos lideres uma mensagem urgente de um novo modelo econômico, construído em cima de novos valores e não de uma divida ecológica. Para a vantagem de muitos e não de poucos”, disse.
Camilla ironizou os negociadores do documento ao perguntar, durante discurso, de que planeta eles teriam vindo. “Eu fico aqui imaginando de que planeta vem os negociadores. Eles parecem estar numa outra realidade distante de onde as pessoas estão hoje. Nós temos um grande desafio pela frente, mas todas estas decisões foram postergadas”, disse.
Wael Hmaidan, o jovem libanês que na quarta-feira (20) na plenária da conferência da Rio+20 falou aos chefes de estado de sua indignação com o documento, disse que ele foi vendido como histórico, mas que na verdade era um verdadeiro lixo.
Severn Suzuki, que discursou aos chefes de estado em 1992 e ficou conhecida como “a menina que calou o mundo”, acredita que o documento da Rio+20 é histórico. “Esta declaração vai ser uma prova da falha do sistema de governança mundial. O que significa quando os lideres mundiais se juntam e não podem trabalhar para o bem da humanidade?”, perguntou.
“Eu não sou mais jovem, mas eu sou mãe. Eu sou uma mãe como muitos de vcs. E eu sei que como vocês eu vou trabalhar o resto da minha vida para que meus filhos tem o futuro que queremos”, disse.
O grupo busca mais assinatura e entregará sua carta aos governos.
Veja abaixo a íntegra da carta:
A RIO+20 que não queremos
“O Futuro que Queremos não passa pelo documento que carrega este nome, resultante do processo de negociação da Rio+20.
O futuro que queremos tem compromisso e ação, e não só promessas. Tem a urgência necessária para reverter as crises social, ambiental e econômica e não postergação. Tem cooperação e sintonia com a sociedade e seus anseios, e não apenas as cômodas posições de governos.
Nada disso se encontra nos 283 parágrafos do documento oficial que deverá ser o legado desta Conferência. O documento intitulado O Futuro que Queremos é fraco e está muito aquém do espírito e dos avanços conquistados nestes últimos 20 anos, desde a Rio-92. Está muito aquém, ainda, da importância e da urgência dos temas abordados, pois simplesmente lançar uma frágil e genérica agenda de futuras negociações não assegura resultados concretos.
A Rio+20 passará para a história como uma Conferência da ONU que ofereceu à sociedade mundial um texto marcado por graves omissões que comprometem a preservação e a capacidade de recuperação socioambiental do planeta, bem como a garantia, às atuais e futuras gerações, de direitos humanos adquiridos.
Por tudo isso, registramos nossa profunda decepção com os chefes de Estado, pois foi sob suas ordens e orientações que trabalharam os negociadores, e esclarecemos que a sociedade civil não compactua nem subscreve esse documento.” (Fonte: Maria Fernanda Ziegler/ Portal iG)
Nenhum comentário:
Postar um comentário