Especialista do Banco Mundial, Joaquín Toro diz que enchentes dos últimos cinco anos custaram R$ 15 bilhões; problema deve se agravar com mudança climática.
O Brasil gosta de se imaginar como um país livre de desastres naturais. Isso é verdade?
O Brasil não tem eventos catastróficos que afetem o País inteiro, como tsunamis, terremotos, furacões. Quer dizer, não com muita intensidade. Porque, na verdade, temos terremotos, há zonas sísmicas em Minas e no Nordeste, e ciclones tropicais – houve dois nos últimos dez anos, embora não muito grandes. Há uma percepção no País de que não há eventos catastróficos. Mas quando olhamos por estado, vemos grandes perdas, tanto humanas quanto econômicas.
Qual foi o pior deles?
Nos últimos cinco anos, tivemos quatro grandes eventos. O primeiro, em 2008, as enchentes do Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Tivemos enchentes também em Pernambuco e Alagoas, em 2010, e as enxurradas no Rio, na Região Serrana, no começo do ano passado. Para dizer qual foi o pior, qual teve o maior impacto, depende do que for levado em conta. Em termos de número de vidas perdidas, o do Rio de Janeiro foi o pior dos últimos tempos do Brasil, com cerca de mil mortos. Mas se considerarmos o impacto econômico comparado com o PIB do estado, por exemplo, vemos que o de Alagoas foi o mais impactante: quase 8% do PIB.
Por que fazer os estudos agora?
Nunca foi feita sistematicamente no Brasil a avaliação do impacto econômico de desastres. Não diz respeito apenas a perdas diretas, como a destruição de uma ponte, de uma escola, de infraestrutura. Mas também, o impacto da perda da ponte na produção econômica. Essa avaliação não era muito sistematizada. Havia a cultura de pagar pelo desastre. Como em geral não morre muita gente, a percepção é de que o desastre não foi grande. Mas economicamente foi catastrófico.
Mesmo em comparação ao furacão Sandy, nos EUA?
O furacão teve um impacto econômico de US$ 50 bilhões, o equivalente a 2% do PIB da região afetada. Em Alagoas, o prejuízo foi de 8% do PIB. Claro que Alagoas é um dos estados mais pobres do Brasil, qualquer impacto será grande. Mas o que estamos querendo demonstrar é que isso pode ser um empecilho ao desenvolvimento.
Como isso ocorre?
Geralmente o que acontece é que, para pagar o desastre, a reconstrução, é preciso buscar recursos em algum lugar. Primeiro, o município começa a usar todos os recursos que tem. Vão embora seus planos de desenvolvimento, programas sociais, educação, saúde. Todos os recursos vão suprir a reconstrução. Aí vêm as transferências estaduais e federais, que também saem de algum orçamento, porque não existe fundo de emergência. Outros estados acabam sendo afetados.
Qual foi o atraso no desenvolvimento por conta desses eventos?
Não temos esse número, mas o impacto econômico dos desastres naturais nos últimos cinco anos foi de R$ 15 bilhões. A pergunta é: o que poderíamos ter feito com R$ 15 bilhões?
É mais caro reconstruir?
É muito mais caro. Estudos mostram que para cada dólar investido em prevenção ou redução de riscos, representa uma economia de 5 a 7 dólares na recuperação.
Por que não há prevenção?
Por um lado não tínhamos muito conhecimento do risco, não entendíamos o problema. Não há cultura de prevenção e as pessoas esquecem muito rápido, o que ocorreu há cinco, dez anos. Mas há mudanças. Há uma nova política de redução de riscos.
Piora com o aquecimento global?
A pergunta é o que vamos fazer para evitar o crescimento desordenado das cidades. Se tivermos de 10% a 20% a mais de chuvas mas também cidades bem resolvidas, o impacto será muito menor. Mas, se não pudermos nos adaptar, será ainda mais difícil. Vamos ter mais chuvas e secas, e variabilidade climática alta.
Entrevista em O Globo, socializada pelo Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4621.
EcoDebate, 12/11/2012
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