A pouca expectativa em torno de um resultado concreto da 18ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP18) não deve contaminar as negociações a serem travadas no encontro pela redução dos impactos das mudanças climáticas. Para as organizações ambientais que vão acompanhar os debates, do dia 26 de novembro a 7 de dezembro em Doha (Catar), o evento tem que servir, ao menos, para “pavimentar o caminho” para as futuras propostas e metas a serem assumidas pelos países.
“Doha talvez tenha uma COP com atração diferente da [conferência do ano passado] de Durban [na África], mas não dá para ser uma conferência com menos importância. Esta COP tem uma relevância muito grande para dar resposta à emergência do clima. A cada ano, vemos efeitos climáticos mais extremos, como secas, enchentes e grandes tempestades”, alertou Carlos Ritll, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil.
Assim como outras organizações da sociedade civil, o WWF terá representantes acompanhando as discussões. Como não têm direito a manifestações dentro das plenárias, onde os negociadores internacionais vão discutir metas e compromissos, os observadores vão aproveitar os corredores do evento e encontros paralelos com as delegações dos mais de 190 países para apontar caminhos e soluções possíveis para os temas mais complexos.
Assim como a maioria dos negociadores e especialistas, os ambientalistas também acreditam que o resultado mais concreto da COP18 será a definição da segunda rodada de compromissos do Protocolo de Kyoto, com metas obrigatórias assumidas pelos países desenvolvidos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que começam a valer no dia 1º de janeiro de 2013. Mas o temor é que os impasses em torno de questões polêmicas, como os cálculos e permissões para essas emissões, atrasem os acordos.
“Existem alguns aspectos na mesa de negociação que são complexos. Esperamos que haja boa vontade para que os impasses não atrapalhem”, disse Ritll.
A recessão econômica enfrentada pelos países do Leste Europeu, que pegaram grande volume de empréstimos desde que abandonaram o regime comunista na década de 1990, fez com que essas economias reduzissem significativamente o ritmo de produção econômica. As dívidas, somadas à última crise financeira mundial (2009), levou à menor industrialização e, como consequência, o volume de emissões de gases de efeito estufa ficou bem abaixo da média estipulada para os países desenvolvidos.
Esse cenário faz com que esses países tenham um excedente, ou seja, dispõem de um limite acima do permitido para as emissões, o que possibilita uma margem maior de retomada das atividades econômicas para não travar o desenvolvimento. A polêmica é se, diante dos alertas da ciência em relação às mudanças climáticas, o uso do excedente deve ou não ser liberado pela comunidade internacional agora. “Defendemos que o Leste Europeu não use esse excedente, e sim tente comercializar. Isto significaria, na conta global, que os países em desenvolvimento reduzam menos”, calculou.
Os observadores também alertam para discussões com poucas chances de avanços, entre elas, os mecanismos de financiamento e inovadores. Os temas estão no topo das preocupações dos negociadores dos países desenvolvidos e das nações pobres. Os ricos temem ter que se comprometer com o aporte de recursos no mesmo momento em que enfrentam uma crise econômica mundial. Já as delegações dos países em desenvolvimento esperam pelo dinheiro para conseguirem combater o desmatamento ou adotar melhorias sanitárias que impactam na queda dos gases de efeito estufa. “A gente sabe que muitos países vão usar, como argumento, a crise para se isentar de colocar mais recursos. Mas há discussões que podem avançar, como mecanismos para emissões de transporte aéreo e marítimo de carga”, disse.
As organizações defendem ainda que o foco no Tratado de Kyoto “não seja desculpa para não ter avanços importantes nos outros temas. “A emergência não nos deixa margem para perda de tempo,” acrescentando que é fundamental manter o que já foi acertado na Plataforma de Durbin, que ainda está em construção, mas prevê metas obrigatórias para todos os países a partir de 2020. (Fonte: Carolina Gonçalves/ Agência Brasil)
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