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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Populações denunciam que agrotóxicos e transgênicos adoecem pessoas e prejudicam cultivos tradicionais
Pesquisas em Mato Grosso mostram animais com diversas anomalias em locais cuja utilização de agrotóxicos é intensa.
Em Lucas do Rio Verde, um trabalhador rural foi até o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado do Mato Grosso (Indea-MT) reclamar que um avião sempre passava em cima de sua propriedade e os agrotóxicos que lançava sobre os extensos plantios de monoculturas da região também atingiam seus cultivos. O Indea, que é o órgão que deveria ter o controle sobre a utilização dos agrotóxicos na região, não tinha sequer um cadastro dos aviões que realizam a pulverização aérea. “Fotografe o número do avião quando ele passar”, recomendou umas dos funcionários do Instituto ao trabalhador rural. “Mas a minha ferramenta é a enxada e não a máquina fotográfica”, respondeu o agricultor. O episódio foi relatado pela bióloga Lindonésia Andrade, membro da Organização Rioverdense de Meio Ambiente (Oluma), que, junto com pesquisadores da região, denuncia constantemente os graves problemas de saúde decorrentes do uso de agrotóxicos. O relato de Lindonésia foi feito no Diálogo Temático Agrotóxicos, Transgênicos, Saúde Ambiental, Justiça Ambiental e Agroecologia, no terceiro dia de atividades do Encontro Nacional de Diálogos e Convergências, realizado de 26 a 29 de setembro, em Salvador. A bióloga apresentou fotos de animais com diversas anomalias, como um leitão com oito patas, que nasceu em propriedades vizinhas a cultivos que utilizam agrotóxicos, além de deformações diversas em anfíbios coletados em lagoas e rios do município. “Lucas do Rio Verde tem o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mas moramos num município doente, é um IDH para poucos”, declarou Lindonésia. A engenheira agrônoma Franciléia de Castro, da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), que também apresentou a situação do Mato Grosso, destacou que até o final de 2011, serão utilizados 132 milhões de litros de agrotóxicos no estado.
Recentemente a imprensa nacional noticiou uma pesquisa que comprovava a contaminação do leite materno por agrotóxicos em Lucas do Rio Verde. De acordo com Lindonésia, após a grande repercussão dos resultados da pesquisa, o acesso aos dados de contaminação no município ficou mais difícil.
Além da realidade do Mato Grosso, outras três experiências foram apresentadas durante o diálogo temático – a da Chapada do Apodi, no Ceará, a da região do Contestado, no Paraná e Santa Catarina, e a do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), que tem atuação em diversas regiões do país. Márcia Xavier falou sobre o assassinato de seu pai, o trabalhador rural José Maria, uma das mais importantes lideranças da região na crítica ao uso de agrotóxicos pelas empresas de fruticultura que se instalaram no local.  José Maria do Tomé foi assassinado em 21 de abril de 2010 e o crime permanece impune. Márcia relatou como as investigações têm sido dificultadas por supostas debilidades técnicas, como a falta de equipamentos para realizar a perícia nas balas coletadas pela própria família na ocasião do assassinato, apesar de vários indícios de que o crime teve motivações políticas.
De acordo com Márcia e com outros militantes e pesquisadores que também participaram da oficina, o único objeto de José que sumiu no momento do crime foi uma pasta na qual ele carregava inúmeros documentos e processos relativos ao combate à pulverização aérea na região. Um mês após a morte do agricultor, uma lei que impedia essa prática no município de Limoeiro do Norte foi revogada e novamente a população voltou a receber os agrotóxicos também vindos dos aviões. “Há uns cinco anos o pai tinha percebido que havia uma epidemia de coceira, aí um médico disse a ele que poderia ser algo que as pessoas tivessem acesso diariamente, então, depois, descobriram que a água que as pessoas consumiam estava contaminada”, descreveu Márcia.
Da mesma região, o agricultor Eduardo Souza, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), contou como a Chapada do Apodi virou objeto de ganância das empresas fruticultoras, após o incentivo do governo e a construção de um projeto de irrigação na região. “A Chapada do Apodi era ocupada por pequenos produtores, irrigantes, agricultores familiares. As empresas se apropriaram da região com a criação do perímetro irrigado do Apodi, com a política de irrigação dos anos 90, quando a chapada passou a ser um foco do olhar do capital para expandir o agronegócio”, destacou. Eduardo falou também sobre como a parceria entre a comunidade e pesquisadores possibilitou uma denúncia bem fundamentada dos problemas causados pelo uso de agrotóxicos na Chapada. “Conseguimos ver com mais clareza, subsídio e fundamentação cientifica, graças à intervenção do grupo Tramas [Núcleo de pesquisa Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para a Sustentabilidade, da Universidade Federal do Ceará] que nós temos grandes impactos. São seis grandes empresas que comprometem diretamente o meio ambiente e a biodiversidade, com o uso intensivo de agrotóxicos. Na chapada está o aqUífero Jandaíra, o terceiro maior do Nordeste, e essas empresas fazem um uso abusivo da água desse aqUífero e o contaminam. As empresas não pagam nada por isso e não compensam em nada as comunidades locais”, afirmou.
Mobilizações
Os movimentos sociais da Chapada do Apodi criaram o Movimento 21 para cobrar do poder público e alertar a população sobre os prejuízos causados pelas indústrias. O nome do movimento é uma lembrança ao dia do assassinato de José Maria. No ano passado, os trabalhadores de uma das empresas de fruticultura realizaram uma greve para reivindicar direitos básicos, como o de realizar as refeições em um refeitório e não mais ao relento, ao lado das frutas que tinham acabado de pulverizar com os agrotóxicos. “Houve um verdadeiro extermínio e expulsão dos pequenos produtores, que se tornaram assalariados rurais do agronegócio. As empresas produzem milhões de reais, mas essas riquezas não são divididas com os trabalhadores. As empresas estão com as terras, com um incentivo do estado, comprometem a biodiversidade, exploram os trabalhadores, acumulam muitas riquezas, e para os pequenos produtores e trabalhadores rurais, só resta um mísero salário e condições sub-humanas de vida e trabalho”, critica Eduardo.
Na região do Contestado, nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, os agricultores têm se organizado para evitar que seus cultivos sejam contaminados por sementes transgênicas. O técnico André Jantara, da ASPTA- Agricultura Familiar e Agroecologia, relatou as experiências da região no resgate, avaliação e multiplicação de sementes crioulas, com a realização de feiras de sementes e encontros regionais de biodiversidade. Um grave problema, segundo André, é a quantidade de agrotóxicos utilizada na monocultura do fumo, bastante comum na região. Os movimentos da região criaram o coletivo Triunfo, para promover ações de conscientização e questionamento público dos impactos dos agrotóxicos e transgênicos para a biodiversidade regional.
Eliane Mendes, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palmeira, também na região do Contestado, contou que plantou fumo durante 20 anos, mas decidiu fazer uma reconversão agroecológica em sua propriedade. “No início tínhamos mata nativa, sempre plantávamos feijão, milho, mas com o passar do tempo, fomos perdendo a diversidade e aumentando o cultivo do fumo. O solo era fértil, não precisava de adubo nem de nada, não tínhamos muita despesa, mas depois, fomos ficando dependentes de adubo, o solo foi ficando mais fraco e  o cultivo de fumo tinha mais custo. E o que acontece é que para plantar o fumo, os consultores trazem o pacote completo, levam tudo em casa. Aí era mais fácil e mais cômodo, então fomos aumentando sempre mais o número de pés plantados e com o passar dos anos o investimento necessário passou a ser maior”, detalhou. De acordo com Eliane, foi participando de um seminário que ela percebeu a necessidade de modificar a forma de produzir. “Eu estava produzindo morte, pois o fumo está acabando com a vida das pessoas através do cigarro e do uso do agrotóxicos. Então, tomei uma atitude: pensei que ao invés de produzir morte, eu iria produzir vida”, fala.
Foi também pensando na vida que as mulheres do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) decidiram colocar em prática a Campanha por alimentos saudáveis. As agricultoras Maria Mendes dos Santos e Izaquiani Feitosa apresentaram a campanha durante o diálogo temático. De acordo com as agriculturas, o MMC está tentando mapear os costumes de alimentação em cada região. “Assim, poderemos estar cada vez mais unidos, para mostrarmos essa potencialidade e diversidade de alimentação que temos em todos o país”, destacou Izaquiani.
O MMC quer chamar a atenção, por meio da campanha, para a grande potencialidade que a agricultura camponesa possui na produção de alimentos. Entre as metas da campanha está  a garantia de recursos públicos e subsidiados para a produção ecológica dos alimentos, a pontencialização das redes solidárias de trabalho e consumo e a resignificação da cultura, dos valores e hábitos alimentares. “Cada vez mais o movimento vem afirmando que a luta política não existe sem a luta cotidiana e a luta cotidiana não existe sem a política”, concluem as mulheres do MMC.
Reportagem de Raquel Júnia – Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), publicada pelo EcoDebate, 04/10/2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Com redução sem precedentes, buraco na camada de ozônio do Ártico é equivalente ao da Antártida
Cientistas afirmaram que, pela primeira vez, registraram um buraco gigante na amada de ozônio na atmosfera superior acima da região do Ártico, parecido com o buraco encontrado regularmente sobre a Antártida, no sul.
Segundo os cientistas, o buraco foi detectado durante vários meses no começo do ano e seu tamanho era cinco vezes o tamanho da Alemanha. Os cientistas afirmaram ainda que, a cerca de 20 quilômetros acima da superfície terrestre, 80% do ozônio tinha desparecido.
Informações que já tinham sido publicadas pela revista especializada Nature em abril destacavam a destruição da camada de ozônio no Ártico, mas esta é a primeira vez que são publicados dados que já foram totalmente analisados pelos cientistas.
A causa foi uma época longa de clima frio naquela altitude. Em condições de frio, elementos químicos produzidos pelo homem e que destroem o ozônio são mais ativos.
“O inverno na estratosfera ártica é muito variável, alguns são quentes, outros são frios”, disse Michelle Santee, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, a agência espacial americana.
“Mas, nas últimas décadas, os invernos que são frios estão ficando ainda mais frios.”
De acordo com a pesquisa [Unprecedented Arctic ozone loss in 2011, Nature 2011, doi:10.1038/nature10556] publicada na Nature, atualmente é impossível prever se estas perdas na camada protetora de ozônio vão ocorrer novamente naquela região.
A camada de ozônio impede a passagem dos raios ultravioleta do sol. Esses raios têm efeitos nocivos à saúde, podendo provocar câncer e outras doenças.
Protocolo de Montreal
Os compostos químicos que destroem a camada de ozônio tem origem em substâncias chamadas clorofluorcabonos (CFCs), que começaram a ser usados no século passado em vários produtos, incluindo refrigeradores.
Estes compostos químicos que aumentam chamado “buraco” na camada de ozônio foram proibidos ou tiveram o uso limitado pelo Protocolo de Montreal das Nações Unidas, assinado em 1987, mas permanecem por tanto tempo na atmosfera que os especialistas esperam que os danos continuem por décadas.
Os efeitos destrutivos foram registrados pela primeira vez na Antártida, que atualmente registra uma grande queda no nível de ozônio em sua camada a cada inverno.
As temperaturas da estratosfera na região do Ártico durante o inverno geralmente não caem tanto como as temperaturas no Polo Sul.
O Ártico não bateu nenhum recorde de baixas temperaturas em 2011, mas o ar permaneceu mais frio por um período extraordinariamente longo, cobrindo uma área maior do que o de costume.
O tamanho e a posição do buraco na camada de ozônio mudou no decorrer do tempo. Algumas estações de monitoramento no norte da Europa e na Rússia registraram níveis maiores de penetração dos raios ultravioletas-B, mas ainda não se sabe se isto significa algum risco à saúde humana.
Reportagem da BBC Brasil, publicada pelo EcoDebate, 03/10/2011
Nota do EcoDebate: como fonte adicional sugerimos a nota “NASA Leads Study of Unprecedented Arctic Ozone Loss“, Jet Propulsion Laboratory/Nasa.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Brasil ‘protege árvores mas não pessoas’ na Amazônia, diz jornal

Uma reportagem do jornal britânico “The Guardian” afirma que o Brasil “protege as suas árvores, mas não as pessoas” na Amazônia. Para o jornal, “progresso em reduzir desmatamento é ofuscado por assassinatos brutais”.
A reportagem de página inteira assinada de Marabá, no Pará, aborda a prática recorrente de assassinatos de ambientalistas na região Norte do país, o mais recente, do ativista José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa, Maria do Espírito Santo. Ambos “foram os mais recentes de uma série de ambientalistas assassinados pela causa na Amazônia brasileira”, afirma a reportagem.
Após 15 anos de campanha contra madeireiros ilegais, produtores de carvão vegetal e pecuaristas, ambos foram mortos perto de casa em maio.
“Nos últimos anos, o governo brasileiro fez progresso significativo na contenção da destruição da maior floresta tropical do mundo, reduzindo a área de floresta perdida de 27 mil quilômetros quadrados em 2004 para apenas 6 mil quilômetros quadrados no ano passado”, nota a reportagem.
“Mas uma onda de assassinatos brutais sublinhou uma verdade desconfortável: as autoridades podem parar a derrubada das árvores até certo ponto, mas não o abate dos ambientalistas.”
A reportagem lembra que a morte de Zé Cláudio, como era conhecida a vítima mais recente, foi o caso mais proeminente de execução de ativistas na Amazônia desde o assassinato da missionária americana Dorothy Stang no Pará em 2005. Ele tinha “anunciado” a sua própria morte seis meses antes de ser executado.
“Poucos acreditam que estas mortes serão as últimas. Muitas partes da Amazônia brasileira continuam proibidas para ambientalistas, enquanto autoridades ambientais só viajam para certas regiões sob escolta da polícia fortemente armada com rifles e apoio de helicóptero.”
Entrevistados pelo jornal acreditam que o governo poderia ter feito mais para proteger Zé Cláudio e sua esposa. Assustada, a família nunca mais voltou para casa, em um assentamento florestal. (Fonte: G1)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Dois terços de todo esgoto gerado no Brasil não são tratados

Saneamento básico. Está no nome: é básico. Mas para muitas das maiores cidades do Brasil esse serviço público não é prioridade. Você vai conhecer o ranking da coleta e do tratamento de esgoto dessas cidades.
Tem até capital com índice de saneamento zero. É o que acontece, por exemplo, na capital de Rondônia. Um problema grave que se repete também em cidades muito populosas das maiores regiões metropolitanas do país. O estudo, feito desde 2007 em municípios com mais de 300 mil habitantes, aponta as deficiências.
Em 2009, as 81 maiores cidades do país despejaram a cada dia 5 bilhões de litros de esgoto sem tratamento no meio ambiente. “Dois terços de todo o esgoto gerado no Brasil não são tratados e isto, com certeza, está em todos os nossos córregos e rios, poluindo o meio ambiente e trazendo graves consequências à saúde”, explicou a engenheira sanitarista Aline Mantuja.
Entre as melhores cidades do país em saneamento estão: Santos, em primeiro lugar, seguido de Uberlândia, Franca, Jundiaí, Curitiba, Ribeirão Preto, Maringá, Sorocaba, Niterói e Londrina. A classificação mostra também as dez piores: Canoas, Jaboatão dos Guararapes, Macapá, Ananindeua, Nova Iguaçu, Belém, São João de Meriti, Belfort Roxo, Duque de Caxias e, em último lugar, a capital de Rondônia, Porto Velho.
A cidade do Rio de Janeiro está bem melhor que a cidade de São Paulo. O Rio tem 75% de saneamento, enquanto São Paulo, 57% de saneamento. Mas as regiões metropolitanas tanto do Rio, quanto de São Paulo são bem ruins. São João de Meriti e Duque de Caxias têm zero de saneamento, Nova Iguaçu tem apenas 1%.
Em São Paulo, Mauá tem 1%, Itaquaquecetuba tem 4% e Diadema, 10%. O Rio Tietê continua a ser um dos rios mais poluídos do mundo. Os municípios vizinhos a São Paulo sempre despejaram o esgoto in natura, direto no Rio Tietê ou nos seus afluentes.
Se há um serviço que não discrimina pobres e ricos é o tratamento do esgoto. Seja na favela ou onde ficam alguns dos condomínios mais caros de São Paulo, o que falta é a mesma coisa: o tratamento do esgoto.
O problema é dinheiro? Não. Só está melhorando muito lentamente. O Insitituto Trata Brasil reconhece o avanço que estamos fazendo em direção à universalização mas ainda em ritmo muito lento. “É preciso acelerar, selecionando gargalos comuns como, por exemplo, a questão de habitação com a questão de saneamento, onde as empresas de saneamento não podem oferecer o serviço. Falta de projetos e, principalmente, falta de planejamento municipal”, explicou.
Na manhã desta terça-feira (28), a equipe do Bom dia Brasil sobrevoou o Rio Tietê, na altura da cidade de Guarulhos. Neste trecho, o Tietê recebe esgoto de cerca de um milhão de moradores e um equipamento, que mede a oxigenação da água, registrou péssimos índices de oxigênio.
A cidade de Guarulhos tem tratamento zero e a primeira estação de tratamento foi inaugurada em 2010 e a prefeitura promete a inauguração da segunda estação para os próximos dias. As duas estações juntas devem que tratar 35% de esgoto coletado na região.
De acordo com o Instituto Trata Brasil, o Brasil investe apenas 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em saneamento. Seria necessário três vezes mais investimentos. Segundo os médicos, 88% dos casos de diarreia são decorrentes da falta de saneamento básico. (Fonte: Globo.com)