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terça-feira, 30 de junho de 2015

Instituto Socioambiental (ISA) publica dossiê ‘Belo Monte – Não há condições para a Licença de Operação’



Documento aponta as principais consequências do desrespeito às condicionantes socioambientais da hidrelétrica que está sendo construída na região de Altamira (PA), no momento em que o Ibama avalia a autorização da operação da usina. O dossiê está disponível para download aqui


No escritório da Norte Energia, em Altamira, empresa responsável pela usina de Belo Monte, um calendário aponta: “faltam 64 dias para a Licença de Operação”. Já dada como certa, a última licença ambiental da obra foi solicitada ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) em 11/2.

Nesta segunda (29/6), o ISA divulga um dossiê com a síntese dos principais erros e omissões, tanto da Norte Energia como do governo federal, na condução das obrigações socioambientais relacionadas à Belo Monte. O material também traz uma coletânea de 24 artigos escritos por especialistas, técnicos e representantes de instituições que acompanharam de perto o descompasso entre a execução da obra e a realização das ações de mitigação e compensação de impactos na região afetada.

Nessa última etapa do licenciamento ambiental, não será possível transferir descumprimentos e pendências para a fase seguinte, como aconteceu repetidas vezes, desde a primeira licença ambiental do empreendimento, em 2010. Se a licença de operação for emitida sem o atendimento de todas as condições que pretendem viabilizar a operação da obra, não haverá nova oportunidade para exigir a resolução dos problemas causados pelo empreendimento.

O dossiê denuncia que temas sensíveis à região amazônica têm sido tratados com descaso. O aumento da exploração ilegal de madeira, a destruição da atividade pesqueira da região, a perda do modo de vida ribeirinho e indígena e um atropelado processo de reassentamento de populações urbanas e rurais são evidências das falhas ocorridas ao longo do processo.

As famílias que residem nas ilhas e margens do rio Xingu têm sido obrigadas a sair de suas casas e áreas produtivas sem uma nova moradia que garanta condições de vida iguais ou melhores às anteriores. Os projetos de reassentamento são distantes do rio, impedindo que essas famílias continuem a exercer sua principal atividade, a pesca.

O documento descreve a ineficácia, ao longo dos últimos cinco anos, das ações executadas para prevenir ou diminuir os impactos aos povos indígenas. A integridade das Terras Indígenas (TIs) está ameaçada, fruto da pressão causada pelo aumento populacional da região. A TI Cachoeira Seca, localizada na área de impacto de Belo Monte, foi, em 2013, a TI mais desmatada do Brasil. Os indicadores de saúde indígena também são preocupantes. A taxa de mortalidade infantil indígena da região, que já era alta, cresceu 127%, entre 2010 e 2012.

Ordens judiciais

O trabalho realizado pelo ISA relembra que o governo federal conseguiu derrubar as ordens judiciais que determinavam a paralisação da obra, utilizando uma medida judicial muito comum à época da ditadura, a Suspensão de Segurança, que se baseia no argumento de que o cronograma de andamento do empreendimento é mais relevante que os direitos das populações atingidas.

O dossiê questiona como um empreendimento em grande parte gerido pela União, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), patrulhado pela Força Nacional e fiscalizado pelo Ibama não foi capaz de garantir que um único hospital fosse entregue ao longo dos três anos de pico das obras, ou como o sistema de saneamento básico implantado corre o risco de ser inutilizado por problemas de coordenação de responsabilidades e de gestão pública.

Nesse contexto, o documento chama a atenção sobre a dificuldade em se estabelecer espaços de controle social efetivos e um mecanismo independente de fiscalização das obras em execução, um vício de origem da usina, imposta à sociedade brasileira com audiências públicas meramente formais, sem oitivas ou consulta aos povos indígenas.

Para os autores do documento, a somatória de erros de Belo Monte não pode se repetir na Amazônia. O dossiêBelo Monte – Não há condições para a Licença de Operação é um instrumento fundamental para a população das cidades, do campo e dos rios amazônicos no último momento em que compromissos podem ser cobrados, buscando-se a correção das injustiças cometidas por Belo Monte antes que a primeira turbina comece a girar.


Por Letícia Leite, ISA

Publicado no Portal EcoDebate, 30/06/2015

segunda-feira, 29 de junho de 2015

RESERVA LEGAL: TJMG considera inconstitucional artigo 67 do Novo Código Florestal


Desmatamentos em áreas rurais com até quatro módulos fiscais foram autorizados pelo Código Florestal

Reportagem de Thaís Mota, do R7, a ser conferida em: 


O Órgão Especial do TJMG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) considerou inconstitucional o artigo 67 do Novo Código Florestal. A ação de inconstitucionalidade, julgada na última quarta-feira (24), foi proposta pelo MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) que argumentou que o artigo autoriza a consolidação dos desmatamentos ilícitos em todo o país. Ainda conforme o MP, a norma em vigor permite o registro de reserva legal em percentual inferior a 20% da área total das propriedades rurais que detinham, em 22 de julho de 2008, até quatro módulos fiscais. No entanto, a Justiça entendeu que o artigo, ao isentar o proprietário rural de recompor a área desmatada, afronta dispositivos da Constituição Federal. 

O TJMG rejeitou ainda um pedido inicial (preliminar no jargão jurídico) que requeria a suspensão do julgamento até o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal (STF) na Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) n.º 4.902-DF, sob o argumento de que a existência desta ação tramitando em âmbito nacional não impede o exercício do controle difuso da constitucionalidade das leis pelos demais juízes de Direito. De acordo com o procurador de Justiça Antônio Sérgio Rocha de Paula, a decisão da Justiça mineira é de grande relevância para a defesa do meio ambiente, porque, no Brasil, 90% dos imóveis rurais têm área de até quatro módulos fiscais. 
— Já vi muita coisa absurda no Novo Código Florestal, mas o artigo 67 é o de maior impacto para o meio ambiente já que com ele quase 30 milhões de hectares deixam de ser recuperados. E, em um momento de crise hídrica pela qual estamos passando, a destruição das florestas tem ainda mais impacto.

O Incidente de Inconstitucionalidade julgado pelo TJMG surgiu em Ação Civil Pública ajuizada na comarca de Carmo do Rio Claro, no sul de Minas. Nessa ação, os réus foram condenados a instituir a reserva legal em sua propriedade. Mas, eles recorreram insistindo na aplicação do artigo 67 do Novo Código Florestal, sob o argumento de que o imóvel tem área inferior a quatro módulos fiscais (104 ha na região) e, por isso, ele estavam dispensados de instituir a reserva legal. Agora, com a decisão da Justiça mineira essas propriedades passarão a ser obrigadas a replantar até 20% do território desmatado. No entanto, ela ainda pode ser revertida conforme o posicionamento do STF em relação ao assunto.

OUTROS ARTIGOS DO CÓDIGO FLORESTAL JÁ FORAM DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS EM OUTRAS DECISÕES EM MINAS GERAIS
ANISTIA DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL É DECLARADA INCONSTITUCIONAL PELO JUDICIÁRIO DE ITAMONTE

Em ACP do MPMG, Justiça declarou incidentalmente inconstitucionalidade de artigo do Código Florestal


Postado por Bacia do Rio Grande às 16:29

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Ferrovia interoceânica pode acabar com o pulmão do mundo: a Amazônia


Os povos indígenas da Amazônia e a ONG Survival alertaram na quarta-feira (24) sobre o risco de destruição que representaria para sua população a construção de uma linha ferroviária que atravesse a Floresta Amazônica do Brasil até o Peru, ligando o oceano Atlântico ao Pacífico.

A Survival, uma organização de defesa dos povos indígenas e tribais, informou em comunicado o perigo que representa para a Amazônia o projeto que pretende unir os dois países sul-americanos, com uma ferrovia saindo do Rio de Janeiro até Porto Ilo, no Peru.

A China, o maior beneficiado do projeto, proporcionaria o financiamento, capacitação e construção da linha ferroviária que permitiria uma economia de milhares de quilômetros e dólares às embarcações das empresas que transportam mercadorias, principalmente com destino aos mercados asiáticos, e que, atualmente, precisam dar a volta pela Terra do Fogo, no sul da Argentina.

Um dos produtos que seriam beneficiados pelo megaprojeto amazônico seria a soja (geneticamente modificada), que é cultivada, sobretudo, em Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai e que é exportada principalmente para países asiáticos.

No entanto, esse mercado de milhões de pessoas na Ásia pode colocar em perigo uma das maiores reservas naturais no mundo: a Floresta Amazônica.

O projeto ferroviário está há anos sobre as mesas de funcionários peruanos e brasileiros e foi retomado com a viagem do presidente da China, Xi Jinping, a vários países da América Latina, em julho de 2014, durante a qual se assinou um pré-acordo entre os ministérios dos Transportes de Peru e Brasil e a Comissão de Desenvolvimento de China.

Inicialmente, o traçado da linha ferroviária amazônica teria uma extensão de uns 5.300 quilômetros, e várias empresas chinesas, entre elas a China International Water and Electric Corporation (CWE), manifestaram interesse em participar do projeto.

Em um primeiro momento, a Bolívia não fazia parte do planejamento. No entanto, sua participação representaria uma economia de muitos quilômetros de traçado e de combustível, com a via passando pelos departamentos do norte do país.

Este foi, precisamente, um dos temas tratados pelos presidentes de Bolívia, Evo Morales, e Peru, Ollanta Humala, junto com seus chanceleres David Choquehuanca e Ana María Sánchez, ontem, terça-feira, no I Gabinete Binacional reunido em Puno (Peru).

Durante a reunião, os chefes de Estado analisaram a viabilidade da construção da linha ferroviária. Ao término da mesma, Morales anunciou que o “corredor bioceânico de San Lorenzo”, passaria pelos departamentos bolivianos de Curral e Beni até chegar ao Brasil.

Apesar de não ter citado números, Morales opinou que este megaprojeto beneficiaria também a Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina no comércio de suas mercadorias.

No entanto, a Bolívia seria um dos países mais beneficiados, pois tem grandes reservas de minerais em seu solo, como ferro, lítio e magnésio, cujo maior mercado é China, que proporciona tecnologia e capacitação ao país sul-americano.

Humala, por sua vez, anunciou que seu país estudará o transporte de gás da reserva de Camisea para a costa sul do Peru para a criação de um “polo petroquímico”, um projeto que – disse – estaria disposto a “compartilhar com o povo boliviano”.

Segundo a Survival, esta ferrovia atravessaria territórios de povos indígenas e causaria enormes danos à biodiversidade da Amazônia.

A construção desse projeto “causaria estragos nas terras e vidas” de seus habitantes, pois “exporia seu território ao desmatamento indiscriminado de árvores, à exploração industrial, à mineração e à invasão de colonos”.

Diante do temor da devastação que a entrada de máquinas causaria nesta região já muito maltratada do planeta, a Survival pede que Peru e Brasil cumpram com as normas estabelecidas por órgãos nacionais e internacionais, que consideram necessária uma consulta aos povos indígenas e, diante da impossibilidade de contato com os povos isolados, pedem respeito a seu território para evitar a devastação de seu espaço vital. (Fonte: Terra)

quinta-feira, 25 de junho de 2015

CONHEÇA OS PARQUES ESTADUAIS DE MINAS GERAIS


O Parque Estadual tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. Pertence à categoria de unidades de conservação de proteção integral e é de posse e domínio públicos. 

A visitação está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo IEF e àquelas previstas no regulamento da unidade.

A pesquisa científica depende de autorização prévia do IEF e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas. 

Parque Estadual é uma categoria de unidades de conservação, que se destaca pela grande beleza cênica e relevância ecológica. Os parques são criados com a finalidade de preservar a fauna e flora nativa, principalmente as espécies ameaçadas de extinção, os recursos hídricos (nascentes, rios, cachoeiras), as formações geológicas; conservar valores culturais, históricos e arqueológicos e promover estudos e pesquisas científicas, educação e ambiental e turismo ecológico.



Parques Estaduais com infraestrutura para receber visitantes:


Demais Parques





Fonte: Portal Meio Ambiente MG

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Amazônia: 23 hidrelétricas e seus efeitos sobre Terras Indígenas, artigo de Ricardo Verdum



Audiência Comissão de Direitos Humanos – CN (Leonardo Prado/SECOM/MPF)



[Inesc] A história social e ambiental da Amazônia brasileira ao longo dos últimos quarenta anos está profundamente marcada pela instalação e pelos efeitos de grandes obras de infraestrutura, especialmente de transporte e de geração de energia. O conhecimento acumulado sobre as obras do setor elétrico mostra o quanto esse tipo de empreendimento impacta a natureza e as populações humanas situadas na sua área de influência.

Outro dado recorrente nesta história é o grande poder de influência que as empresas construtoras e os interesses em torno da exploração e extração mineral, de petróleo, gás e florestal, e as empresas agroindustriais e de agroexportação, têm no planejamentodesenvolvimentista estatal, nos espaços formalmente designados de tomada de decisões ou nas esferas políticas oficiais. A suposta incapacidade do estado de estabelecer regras de procedimento para consultar as comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais nos parece ser a expressão exata e o resultado dos interesses e das regras e hierarquias parcialmente visíveis que configuram esta relação.[1]

Não é raro que ocorra o que Harvey (2008) denominou de acumulação por desapossamento, que na cena amazônica se manifesta na forma de incorporação pelo capital de novas zonas territoriais e da privação do acesso às comunidades tradicionais a parcelas das terras e águas até então utilizadas; a isso segue a privatização e a redução da natureza a condição de recurso natural, ou seja, de mercadoria a ser inserida no mercado global para promover a produção e o crescimento econômico.

Estas obras geram afluxo migratório; promovem deslocamentos e/ou impacto direto nos meios de subsistência de populações tradicionais (como indígenas, quilombolas e ribeirinhos) e de populações rurais; criam um ambiente favorável ao acirramento das disputas pela posse e o controle da terra e territórios; aceleram o processo de desmatamento para implantação de monocultivos (soja, cana, eucaliptos etc.) ou mera especulação; desviam e alteram o curso de rios, podendo gerar crises de acesso e abastecimento de água ao consumo humano e a outros fins de subsistência (o caso Belo Monte é um exemplo disso); têm impacto sistêmico na cadeia alimentar, especialmente na do pescado; provocam a emissão de gases na atmosfera, como o metano, produzido na decomposição da vegetação não retirada da área do reservatório d’água; introduzem novos patógenos e vetores, ou interferem no processo de disseminação da malária, levando ao aumento na incidência dessa e outras doenças infecciosas; e estão associadas com o crescimento exponencial dos casos de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis).

A falta de planejamento e o descaso com as condicionantes estabelecidas por ocasião dos licenciamentos geram a precarização dos serviços de saúde pública e a elevação do custo de vida, relacionada especialmente com os itens alimentação e moradia. As ações mitigadoras e compensatórias implementadas pelas empresas de energia hidrelétrica ou pelo setor público, em geral são tardiamente implementadas e visam remediar os efeitos dos impactos negativos. Não raro ocorre um crescimento no número de casos de violência e nos índices de óbito por esse tipo de causa e por acidentes.

A construção e operação das linhas de transmissão de energia (também chamadas de “linhões”) são outro fator de preocupação, por seus múltiplos impactos em termos ambiental, populacional e social. Mesmo nas chamadas “usinas plataforma”, há a necessidade de escoar a produção de energia, conectando a fonte geradora às redes locais, regionais e/ ou ao sistema nacional, de maneira direta. E isso ocorre no terreno, por meio do aproveitamento de vias já abertas na mata (rodovias) ou da abertura e manutenção de corredores desflorestados às vezes por dezenas ou até centenas de quilômetros de extensão. Passando no interior de unidades de conservação, terras indígenas, propriedades privadas etc.

Um exemplo desta história de desapossamento territorial é o caso dos Apinayé, que habitam a região tocantinense conhecida como “Bico do Papagaio”. Ao longo de cinquenta anos viram sua territorialidade e meios de vida sendo restringidos por diversos empreendimentos (Ferrovias Carajás e Norte-Sul; rodovias BR 153, Transamazônica e TO 126 e 134; linha de tensão da UHE Tucuruí; impactos das hidrelétricas de Estreito e Lajeado), aos quais poderá se somar a Hidrovia Tocantins/Araguaia e a ameaça ainda presente de implantação da barragem de Serra Quebrada Rio Tocantins, esta última suprimindo cerca de 14% da Terra Indígena Apinajé. Ademais, enfrentam na atualidade um desmatamento acelerado no entorno da TI, promovido pelas empresas Sinobrás, Eco Brasil Florestas S/A, Cargil Agrícola S/A, Suzano Papel e Celulose S/A com a conivência do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), para o plantio de soja, cana, eucaliptos e implantação de carvoarias no extremo Norte do Estado do Tocantins.

Essas e outras situações e suas consequências e efeitos foram observadas e documentadas em diversas situações na Amazônia brasileira e noutras partes do país e do mundo. [2]

Hidrelétricas na Amazônia: afetando Terras Indígenas

A despeito de todas as evidências e denúncias, o Plano Decenal de Expansão de Energia 2023 (PDE, 2023), que projeta para o período de 2014-2023 uma expansão de mais de 28 mil megawatts (MW) de capacidade de geração de energia a partir da instalação e da entrada em operação de grandes empreendimentos hidroelétricos, considera que nenhuma das 30 UHEs projetadas no país para o período tem interferência direta em Terras Indígenas (TI); também, que onze de 30 UHE estão situadas até 40 km de Terra Indígena na Amazônia Legal e 15 km nas demais regiões. Essa avaliação tem por base a Portaria Interministerial nº. 419/2011, que regulamenta a atuação dos órgãos e entidades da administração pública federal no licenciamento ambiental federal. Já em relação às 232 novas linhas de transmissão (LTs) contempladas pelo Plano, que no conjunto perfazem uma extensão de aproximadamente 41.000 km, o Plano prevê que oito Terras Indígenas serão afetadas. [3]

A partir dos dados e informações armazenadas no banco de dados criado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) no âmbito da iniciativa “Investimentos e Direitos na Amazônia”, constatamos que de um conjunto formado por vinte e três hidrelétricas, em ao menos dezesseis empreendimentos há impactos socioambientais em Terras Indígenas, ou seja, na população que aí vive e/ ou nas condições ambientais e nos meios de que fazem uso e dos quais dependem para sua manutenção e desenvolvimento.

A diferença no resultado se deve a forma como é construída conceitual e materialmente a ideia de impacto ou de interferência. Segundo a legislação vigente, “interferência em TI” ocorre quando uma parcela da Terra Indígena é afetada diretamente pelo eixo ou reservatório da UHE. O critério territorial/ambiental não considera os aspectos humanos e sociais da interferência (ou influência) do empreendimento sobre a população. Do nosso ponto de vista, é necessário haver uma revisão urgente desse indicador.

Ao menos no que se refere às comunidades indígenas, há vários estudos indicando que os impactos indiretos negativos desse tipo de empreendimento podem ser tão ou mais problemáticos e danosos quanto os diretos. A simples notícia de que estão sendo planejadas obras nas proximidades, que pessoas estão andando pela região realizando levantamentos de dados, medições etc. é suficiente para trazer a inquietação e gerar temores ao interior de uma comunidade. A situação na bacia do rio Tapajós é um bom exemplo disso.

Estudos e análises realizadas nas últimas décadas mostram que a interferência desse tipo de empreendimento vai bem mais além da faixa de 10 km no seu entorno. Pode alcançar comunidades antes mesmo de elas terem tido um contato direto, face a face, com as frentes de trabalho de construção da barragem, linhas de transmissão e rodovias. Como explicado por Darrell Posey (1987), as situações de contato podem ser separadas em três categorias com base na natureza epidemiológica da interação:

1) Contato Indireto: inclui a transmissão de doenças sem nenhum intermediário humano, através de insetos e de reservatórios e vetores animais;

2) Contato Intermediário: depende de contato temporário e/ou fortuito com grupos ou indivíduos tais como mercadores, soldados, pesquisadores, funcionários, garimpeiros, seringueiro e outros indígenas que já tenham tido contato com outras pessoas e suas doenças;

3) Contato Direto: que como o próprio nome diz, provém de convívio permanente com missionários, funcionários de órgãos públicos instalados na Terra Indígena, turistas ou mesmo de parceiros de casamento com pessoas de outros grupos já em situação de relacionamento permanente com núcleos urbanos ou com feições urbanas.

A coletânea de artigos organizada Martin Alberto Ibáñez-Novion e Ari Miguel Teixeira Ott (1987) e os estudos bibliográficos de Julio C. Melatti (1987) e Dominique Buchillet (2007), somados ao que foi verificado no Mapa da Fome entre os Povos Indígenas no Brasil (Verdum 1995) e no Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas (Coimbra Jr. 2014), desvelam realidades inúmeras vezes mais complexas e fornecem boas pistas para investigar e explicar a relação entre território, governança, mudanças socioambientais e a situação da saúde física e emocional de indivíduos e comunidades indígena no país.

Considerações finais

Este quadro de pressões e de vulnerabilidades é mais grave quando não são reconhecidos os direitos territoriais coletivos das comunidades indígenas, ou quando a despeito de ter havido o registro fundiário, ou seja, de ter sido criada a Terra Indígena no papel, não são garantidas pelo estado as condições humanas e materiais à governança da sua proteção. Para desestimular as invasões e a depredação ambiental é preciso o estado se fazer presente nessas áreas de maneira adequada e efetiva. A precarização dos serviços prestados pela Fundação Nacional do Índio (Funai), com cortes sistemáticos efetuados no seu orçamento anual e perda de poder político de decisão nos assuntos sob a sua responsabilidade, em particular em processos de licenciamento ambiental, quando tem de avaliar e se posicionar sobre o impacto socioambiental em determinada Terra Indígena, tem efeitos diretos sobre os direitos territoriais dos coletivos indígenas. Lamentavelmente é isso o que vemos ocorrer de maneira generalizada e sistemática na Amazônia e no restante do país.

Notas

[1] Em janeiro de 2012 o governo federal instituiu um GTI – Grupo de Trabalho Interministerial (Portaria Interministerial nº 35, de 31 de janeiro de 2012) com o objetivo de estabelecer os procedimentos de consulta prévia aos povos indígenas e comunidades quilombolas e tradicionais. O GTI foi coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da República – SG/PR e pelo Ministério das Relações Exteriores – MRE e contou com a participação de ao menos 26 ministérios e órgãos vinculados. Passados dois anos, em fevereiro de 2014 o GTI encerrou seus trabalhos sem ter alcançado o objetivo.

[2] Vejam por exemplo Davis (1978); Diegues (1999); Dodde (2012); Fearnside & Graça (2009); Koifman (2001); Leonel (1992); Oliveira & Cohn (2014); Posey (1987); Reis & Bloemer (2001); Rocha (2013); Ramos & Taylor (1979); Santos & Nacke (2003); Verdum (1996, 2007, 2012); Verdum, Selau et al (1988); Verswijver & Araújo (2010).

[3] Em 25/03/2015 foi publicada a Portaria Interministerial nº 60, em substituição a 419/2011. No caso de aproveitamentos hidrelétricos (UHEs e PCHs), na Amazônia Legal, o eixo(s) do(s) barramento(s) e respectivo corpo central do(s) reservatório(s) não podem estar a menos que 40 km do limite da TI; e no caso de linhas de transmissão (LT), essa não pode estar numa distância menor do que 8 km do limite da Terra Indígena. Em 30/03/2015 foi publicada pela Funai a Instrução Normativa nº 02 de 27 de março de 2015, que veio para equalizar a atuação da Fundação com o que foi estabelecido na nova Portaria Interministerial.

Sobre o autor: Ricardo Verdum é Doutor em Antropologia Social pela UnB, em estágio pós-doutoral no PPGAS/UFSC. Contato: rverdum@gmail.com

Artigo socializado pelo Inesc e publicado no Portal EcoDebate, 24/06/2015

terça-feira, 23 de junho de 2015

A dessalinização como opção de abastecimento, artigo de Diogo Taranto


[EcoDebate] No Brasil, assim como em países onde se têm abundância de recursos hídricos oriundos de água doce, a dessalinização nunca foi uma opção de abastecimento, mesmo tendo uma extensa área litorânea. No entanto, as recentes faltas de chuvas nas grandes regiões metropolitanas do País, a redução do volume nos reservatórios de água doce e consequentes desdobramentos para possíveis racionamentos fizeram com que grandes empresas e até municípios próximos ao litoral iniciassem análises de viabilidade para implantação de sistemas de dessalinização para abastecimento público.

A dessalinização, ou simplesmente “dessal”, como atualmente é chamada, é um conjunto de processos físico-químicos que tem por objetivo a retirada do sal da água. Esta retirada do sal pode se dar com a utilização de diferentes tecnologias, tais como: osmose reversa, destilação por multiestágios, e destilação térmica, o processo mais antigo conhecido para a dessalinização.

Em alguns lugares do mundo como, por exemplo, países do Oriente Médio, Árabia Saudita, Israel e Kuwait é comum o uso de tecnologias de dessal para provimento de água potável à população. Já no Brasil, a crise de abastecimento deve impulsionar os projetos de dessalinização. Um grande exemplo recente deste tipo de comportamento pode ser observado no governo do estado do Rio de Janeiro, que em fevereiro de 2015 encomendou para uma empresa especialista no segmento um projeto de uma usina de dessalinização para abastecimento de até um milhão de pessoas.

Este exemplo, em menor escala, poderia ser replicado para cidades litorâneas com objetivo de suprir a falta de abastecimento de água em períodos de pico, como festas de fim de ano e feriados prolongados, ou ainda em empresas localizadas nestes locais próximos ao mar, que possuem a água como um recurso importante dentro de seu processo industrial.

Atualmente, o mercado brasileiro possui empresas do segmento de tratamento de água com a expertise necessária em projetar, instalar e até operar sistemas de dessalinização, fazendo com que as barreiras tecnológicas não mais sejam um obstáculo na viabilidade de fontes alternativas de abastecimento público e privado.

O que ainda deixa dúvida em relação à viabilidade destes sistemas são os custos de operação e manutenção, os quais podem chegar a quatro vezes ao valor de metro cúbico (1.000 litros) em comparação ao tratamento de água doce. Todavia, a cada ano esta diferença de custo está diminuindo, seja pela dificuldade na captação e tratamento da água doce, a qual está cada vez mais longe e em determinados locais mais poluídos, ou pela própria redução dos custos dos sistemas de dessalinização mediante o avanço tecnológico dos processos, materiais e equipamentos aplicados.

Ações e projetos como estes seriam de grande valia para preservação dos recursos hídricos naturais, redução das perdas por vazamentos devido as enormes adutoras para transporte de água potável aos locais de consumo e liberação de capacidade das estações de tratamento de água existentes para locais e cidades mais distantes do litoral.

*Diogo Taranto é diretor de Operações da Nova Opersan



Publicado no Portal EcoDebate, 23/06/2015

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Terra passa por novo período de extinção em massa, diz pesquisa


A Terra entrou em um novo período de extinção em massa, de acordo com um estudo feito por três universidades americanas. E os humanos podem estar entre as primeiras vítimas.

A pesquisa, feita por cientistas das universidade de Stanford, Princeton e Berkeley, diz que os vertebrados estão desaparecendo a uma taxa 114 vezes mais rápida que o normal.

A descoberta confirma os resultados de um estudo publicado pela Universidade de Duke no ano passado.

“Estamos entrando agora no sexto grande período de extinção em massa”, disse um dos autores do novo estudo.

O último desses períodos ocorreu há 65 milhões de anos, quando os dinossauros foram extintos, provavelmente devido a um grande meteoro que atingiu a Terra.

“Se for permitido que isso continue, a vida vai levar milhões de anos para se recuperar e nossa própria espécie provavelmente desapareceria logo no início”, disse o autor principal, Gerardo Cabellos.

Os pesquisadores analisaram, historicamente, as taxas de extinção de vertebrados – animais com espinha dorsal – por meio de dados de fósseis.

Eles descobriram que a taxa de extinção atual era mais que 100 vezes mais alta que em períodos em que a Terra não estava passando por um evento de extinção em massa.

Desde 1900, segundo o relatório, mais de 400 vertebrados desapareceram.

Uma perda desta magnitude normalmente seria vista em um período de até 10 mil anos, segundo os cientistas.

O estudo – publicado na revista científica Science Advances – cita, como causas da extinção, mudança climática, poluição e desmatamento.

Como consequência da destruição de ecossistemas, processos benéficos como a polinização feita pela abelhas podem desaparecer em até três gerações humanas.

“Há exemplos de espécies, em todo o mundo, que são basicamente mortos-vivos”, disse o professor de Stanford Paul Ehrlich.

“Estamos cavando nossa própria cova”, afirma.

A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) diz que pelo menos 50 animais ficam mais perto da extinção a cada ano.

Cerca de 41% de todos os anfíbios e 25% dos mamíferos estão ameaçados de extinção, afirmam.

No ano passado, um relatório de Stuart Pimm, um biólogo e especialista em extinção da Universidade Duke, na Carolina do Norte, também alertou que a humanidade estava entrando no sexto período de extinção.

Mas o estudo de Pimm diz que a atual taxa de extinção era mais de mil vezes mais veloz que no passado – o estudo atual fala em 114 vezes.

Os autores do novo estudo afirmam que ainda é possível evitar “uma queda dramática da biodiversidade” por meio de conservação intensiva, mas que é necessário agir rapidamente.

Mais ameaçado: o lêmure – Segundo a IUCN, o lêmure (um tipo de primata) enfrenta uma verdadeira guerra para evitar a extinção em ambientes selvagens nos próximos anos.

O grupo diz que 94% dos lêmures estão sob ameaça, com mais de um quinto de todas as espécies de lêmures classificadas como “sob perigo crítico”.

Além de ver seu habitat natural em Madagascar sendo destruído por retirada ilegal de madeira, eles também são frequentemente caçados por sua carne, diz a IUCN. (Fonte: G1)

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Primeira reunião com servidores do SISEMA


Mais de 500 servidores participaram, na manhã desta quinta-feira (18), da primeira reunião com o Secretário Sávio Souza Cruz. O objetivo da reunião foi apresentar o diagnóstico da atual situação do Sisema e os trabalhos desenvolvidos no âmbito da Força-Tarefa Sisema.


Servidores participam de reunião com Secretário do Auditório JK 
Crédito: Janice Drumond

A Subsecretária de Inovação e Logística, Ana Carolina Miranda, apresentou a situação orçamentária da pasta de meio ambiente e os dados relativos aos servidores. De acordo com ele, a média de execução do orçamento, entre 2012 e 2014, era de 43%. Nos primeiros meses de 2015 a execução já atingiu 63%. 

A Subsecretária disse que a proposta enviada ao governo para previsão orçamentária foi de 448 milhões. Foi aprovada pela Lei Orçamentária Anual (LOA) 353 milhões, sendo que o Decreto publicado pelo governo autorizou a liberação de 317 milhões. “Isso significa que temos um déficit de 57 milhões no orçamento e que estamos trabalhando para apresentar à Seplag uma proposta de suplementação”, disse.

Com relação aos servidores foi apresentado que o sistema conta, atualmente, com 2.250 servidores, sendo que 73% são efetivos. Um dos grandes problemas apresentados pela Subsecretária com relação aos servidores foi a rotatividade dos concursados. Segundo ela, com relação ao concurso de 2005, a média de desistências foi de 29% na Semad; 26% no igam; 20% no IEF e 35% na Feam. 

A assessora da Secretaria-Adjunta, Zuleika Torquetti, mostrou como estão sendo realizados os trabalhos no âmbito da Força-Tarefa Sisema desde a publicação do Decreto 46.733/2015. A força-tarefa conta com a participação de diversos secretários de estado, além da Cemig e da Copasa. 

Zuleika apresentou os passivos de licenciamento, outorgas e Daias por Superintendência Regional. Ao todo, o Sisema tem 2.851 processos de licenciamento e 13.821 processos de outorgas e 4.260 DAIAS para serem analisados. 

Ela falou, também, sobre os grupos de trabalho criados na força-tarefa (Legislação, Atos Autorizativos, Autos de Infracção, Municipalização e Remodelagem Institucional) e os trabalhos que estão sendo desenvolvidos em cada grupo. Além disso, foi apresentada a concepção da plataforma de gestão territorial ambiental, ferramenta que possibilitará a melhoria na análise do licenciamento, com adoção de uma base de orientação territorial. 

“Essa é uma grande oportunidade para fazermos uma reflexão do que é bom e do que não é, para que possamos fazer as mudanças necessárias, com responsabilidade e competência, a fim de realizarmos um trabalho cada vez mais efetivo e eficaz”, finalizou Zuleika. 

Participação dos servidores


Os servidores tiveram a oportunidade de fazer perguntas diretamente ao secretário. Diversos assuntos foram abordados tais como valorização do servidor em diversos aspectos; melhoria da gestão ambiental; passivos; educação ambiental, dentre outros. 

O Presidente da Associação Sindical dos Servidores do Meio Ambiente (Assema), Adriano Tostes, entregou ao Secretário o documento “Visão do Servidor”, que relata os problemas enfrentados, hoje, pelos servidores, para desempenhar suas atividades e aponta soluções. Além disso, o documento sugere políticas de gestão ambiental.


Presidente da Assema, Adriano Tostes, entrega documento ao Secretário
Crédito: Janice Drumond

“Temos que trabalhar para dar um caráter de desenvolvimento sustentável à Semad. Precisamos retomar certa independência e voltar a ser uma secretaria de meio ambiente, trabalhar política ambiental, as questões relativas à cobertura vegetal, solo e água, sempre dentro da lógica da sustentabilidade”, finalizou.



Milene Duque
Ascom/Sisema

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Em encíclica, Papa diz temer guerra pela água ainda neste século


Vaticano divulgou encíclica sobre o meio ambiente nesta quinta.
Francisco pediu mudanças em estilo de vida e acusou potências.


O Papa Francisco culpa a "humanidade" pelo aquecimento do planeta em sua encíclica sobre o meio ambiente publicada nesta quinta-feira (18), e ainda afirmou temer que o controle pela água por parte das grandes empresas mundiais termine por provocar uma guerra neste século.


"É previsível que o controle da água por parte de grandes empresas mundiais se converta em uma das principais fontes de conflitos deste século", escreveu o pontífice, que viveu na Argentina, sua terra natal, as tensões sociais pela privatização da água.
saiba mais


Francisco pediu na encíclica "mudanças do estilo de vida", e acusa as potências e suas indústrias de fazer um "uso irresponsável" dos recursos.

"A humanidade está convocada a tomar consciência da necessidade de realizar mudanças de estilo de vida, de produção e de consumo", escreveu o Papa, que acusa a "política e as empresas de não estarem à altura dos desafios mundiais", depois de terem feito um "uso irresponsável dos bens que Deus colocou na Terra".

O Papa também denunciou "a submissão da política à tecnologia e às finanças" como causa dos fracassos nas reuniões mundiais para conter o aquecimento global e a deterioração do planeta. Ele ainda denunciou o atual sistema econômico mundial que usa a "dívida externa como instrumento de controle" e os países ricos por não reconhecerem a "dívida ecológica" que têm com os países em desenvolvimento.

"A submissão da política ante a tecnologia e as finanças se mostra no fracasso das reuniões mundiais", escreveu o papa em um texto que acusa os "poderosos" de não querer encontrar soluções.

"A dívida externa dos países pobres se transformou em um instrumento de controle, mas não acontece o mesmo com a dívida ecológica (...) com os povos em desenvolvimento, onde se encontram as mais importantes reservas da biosfera e que seguem alimentando o desenvolvimento dos países mais ricos ao custo de seu presente e de seu futuro", afirma o documento apresentado nesta quinta-feira no Vaticano.

Francisco também pediu aos países ricos que aceitem um "certo decrescimento" para conter o consumismo e a pobreza.

"Chegou o momento de aceitar um certo decrescimento em algumas partes do mundo aportando recursos para que seja possível crescer de maneira saudável em outras partes", escreve o pontífice, que pede "limites" por que é "insustentável o comportamento daqueles que consomem e destroem mais e mais, enquanto outros não podem viver de acordo com sua dignidade humana".

Estudo revela que menor poluição do ar salvaria 3 milhões de vidas


Ao menos três milhões de mortes poderiam ser evitadas no mundo anualmente com o respeito às normas sobre a poluição do ar da Organização Mundial de Saúde (OMS), especialmente na China e na Índia, destaca um estudo publicado nesta terça-feira.

A poluição do ar é responsável por cerca de 3,2 milhões de mortes ao ano, segundo estimativa da OMS, o que supera os óbitos provocados pela Aids e a malária juntas, destacam os autores do estudo, publicado na revista Environmental Science and Technology.

Os pesquisadores se concentraram principalmente nas partículas em suspensão no ar inferiores a 2,5 mícrons, que podem penetrar profundamente nos pulmões, aumentando o risco de doenças cardíacas e pulmonares, como enfisema e câncer, assim como acidentes vasculares cerebrais.

Estas partículas procedem da combustão do carvão nas centrais elétricas, do escapamento dos automóveis e de outras emissões industriais. Nos países de baixa renda são resultado da queima da lenha em fogões ou na calefação.

A maioria da população mundial vive com concentrações superiores a 10 microgramas por litro de ar, o máximo aceitável segundo a OMS, mas em algumas partes de Índia e China tal índice supera os 100 microgramas.

“Tratamos de determinar o quanto devem reduzir nos diferentes lugares do mundo estas partículas para diminuir a mortalidade”, explicou Joshua Apte, um dos pesquisadores da Universidade do Texas.

O modelo informático elaborado para este estudo “poderá ajudar a conceber estratégias para proteger a saúde pública”.

Índia e China deveriam reduzir seu nível médio de partículas de 20 a 30% para manter sua taxa atual de mortalidade, levando-se em conta sua progressão demográfica, estimam os pesquisadores.

Mas para chegar a 10 microgramas/litro seriam necessárias medidas drásticas: para reduzir a média de mortalidade devido à poluição do ar os países mais contaminados precisam baixar em 68% a densidade de micropartículas em relação aos níveis de 2010.

Os países da Ásia respondem por 72% dos 3,2 milhões de óbitos anuais causados pela poluição do ar.

Nas nações menos poluídas, como Estados Unidos, uma redução de 25% na concentração de micropartículas salvaria 500 mil vidas anualmente. (Fonte: G1)

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Coreia do Norte relata pior seca dos últimos 100 anos


A Coreia do Norte declarou nesta terça-feira (16) que sofre sua pior seca em um século, o que agrava a escassez crônica de alimentos no país recluso, onde quase um terço das crianças com menos de cinco anos estão subnutridas.

A agência de notícias norte-coreana KCNA informou que arrozais de todo o país, incluindo a região das principais fazendas de cultivo de arroz, nas províncias de Hwanghae e Phyongan, estão secando devido à falta de chuvas. As mudas de arroz precisam estar parcialmente submersas para que possam crescer.

“A pior seca em 100 anos continua na RPDC, causando grandes estragos em seu setor agricultural”, relatou a KCNA, usando a sigla da República Popular Democrática da Coreia, nome oficial do país.

No mês passado, o coordenador residente da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Coreia do Norte, Ghulam Isaczai, alertou sobre uma crise iminente devido à seca do ano passado, provocada pela menor quantidade de chuvas em 30 anos.

A produção agrícola da Coreia do Norte sofre periodicamente com secas e inundações no verão, embora o país tenha aprendido a reduzir os danos atualizando seus métodos de cultivo e adotando outras culturas além do arroz nos últimos anos.

A Coreia do Norte sofreu um surto de fome que vitimou milhões de pessoas nos anos 1990 e depende muito de suprimentos alimentares internacionais, mas esse apoio diminuiu de forma acentuada em anos recentes por causa de suas restrições ao trabalho de agentes humanitários e sua relutância em permitir o monitoramento da distribuição de comida. (Fonte: G1)

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O fantasma da extinção em massa, artigo de Raimundo Nonato Brabo Alves


[EcoDebate] A regulagem do clima e de diversos ciclos na Terra é feita pela água, elemento mais abundante cobrindo 3/4 da superfície terrestre, possuindo características sui generis em suas diferentes fases: sólida, líquida e gasosa. Nas regiões glaciais o aquecimento global como consequência da ação antrópica acelera o degelo, passando a água da fase sólida para a líquida.

Tenho lido em diversos artigos, pesquisadores do Polo Norte desesperados anunciando o derretimento do PERMAFROST. Baseados em seus diagramas e gráficos todos apresentam aumento da temperatura global, derretimento crescente das geleiras polares e aumento exponencial de liberação de metano, carbono e nitrogênio para a atmosfera. Mas o que tenho a ver com um evento climático que ocorre a milhares de quilômetros da minha Amazônia, duas regiões remotas e desconhecidas para a maioria dos habitantes do planeta. Infelizmente tudo a ver.

Por que o PERMAFROST está a derreter como um sorvete na mão de uma ingênua criança? O PERMAFROST ou PERGELISSOLO é um tipo de solo característico das regiões glaciais, encontrado na região do Ártico e nas regiões montanhosas. A origem da palavra permafrost vem do inglês permanent (permanente) e frost (congelado) termo usado pela primeira vez em 1943 por S. W. Miller. Na verdade um misto de terra, gelo e rocha permanentemente congelado, que no inverno dependendo da região pode ser coberto por uma camada de gelo e neve de até duas a três centenas de metros e no verão derrete e se reduz de 0,5 a 2 metros de gelo, numa superfície pantanosa. Este solo e característico da Sibéria na Rússia e norte do Cazaquistão, no Canadá e Alasca nos Estados Unidos. Sobre ele se erguem cidades com suas edificações, estradas e toda a logística necessária à vida no Ártico.

O fato é que esse solo é riquíssimo em matéria orgânica e retém uma reserva incomensurável de gás metano, o gás de efeito estufa (GEE) 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono. O problema é que este solo vem derretendo atualmente além da normalidade, afetando a vida local com destruição de cidades e rodovias. Esse é o efeito local imediato. A ameaça global é que segundo os especialistas, poderá haver uma liberação de 50 giga toneladas de gás metano para a atmosfera, de maneira gradual ou bruscamente, segundo os mesmos, na forma de um gigantesco “arroto”. Mais ainda bilhões de toneladas de nitrogênio e carbono poderão simultaneamente ser liberados desse solo para a atmosfera.

Uma vasta extensão do permafrost da Sibéria até o Alasca começou a descongelar, desde que se formou ha 11.000 anos, sob o efeito da elevação da temperatura média local de 3 C°, nos últimos 40 anos, mais de quatro vezes a média local. Nestes solos se encontram turfeiras na extensão de um milhão de quilômetros quadrados – o equivalente a um quarto da extensão da superfície terrestre do planeta – a uma profundidade média de 25 metros. As da Sibéria são as maiores do planeta.

Quando os efeitos do aquecimento global passaram a dominar as manchetes jornalísticas, as pessoas se perguntavam que diferença faria um grau a mais ou a menos em nossas vidas, raciocinando apenas no seu bem-estar. Mais tarde as ameaças passaram a ser da elevação do nível dos mares em função do degelo das calotas polares, constituindo ameaça as populações litorâneas, caso específico do nosso país em que a maioria das grandes cidades estão próximas ao mar.

Ninguém poderia imaginar que uma ameaça eminente estaria a caminho via atmosfera, com origem em um dos ecossistemas mais frágeis como o Ártico. Uma ameaça gigantesca com mecanismo de retroalimentação. Quanto mais aquecimento mais degelo. Quanto mais degelo mais exposição de solo rico em material orgânico. Quanto mais exposição de solo mais liberação de GEE. E quanto mais liberação de GEE mais aquecimento. Se a retroalimentação for paulatinamente mais lentas os efeitos nefastos sobre os ecossistemas serão perceptíveis. Mas se a liberação de 50 giga toneladas de metano ocorrer na atmosfera na forma de um “arroto” como estão denominando os especialistas, as consequências serão imprevisíveis. Alguns relatam que poderá haver uma extinção em massa.

Na Amazônia e demais regiões tropicais e subtropicais o aquecimento global como consequência da ação antrópica acelera a vaporização, passando a água da fase líquida para a gasosa. A principal causa é o desmatamento com a eliminação das florestas e matas ciliares, desnudando e secando rios e reservatórios de abastecimento de água, com interrupção de fornecimento de água potável em grandes cidades de São Paulo, Minas Gerais e Rio de janeiro. Soma-se a seca prolongada do nordeste, região semiárida brasileira.

Quando o congelador da geladeira descongela ou religamos a energia ou baixamos a temperatura regulando o termostato. Com nossa “geladeira global” não é tão simples assim. Muito pelo contrário teríamos que reduzir o consumo global de energia oriunda da queima de combustíveis fósseis. E ainda mitigar os efeitos do aquecimento global com ações neutralizadoras, como um reflorestamento em escala planetária.

O que estamos a fazer – se é que ainda há tempo – será que contribuirá para reduzir o aquecimento global? Ou estamos na contracorrente da busca da sustentabilidade: a avidez pela exploração de combustíveis fóssil é prioridade com pais autorizando sua exploração no próprio Ártico, agora sendo intensificado com a extração de gás de xisto e de areias betuminosas. O desmatamento continua na Amazônia brasileira, andina e no sudeste asiático, para exploração de madeira ilegal e expansão da palma de óleo. A área de produção de grão supera em muito a de reflorestamento, inclusive em biomas frágeis como o do cerrado brasileiro. Os investimentos em veículos particulares suplantam o de transportes coletivos. A sociedade de consumo é estimulada, agora em países com superpopulação como China e Índia. As guerras se intensificam com as suas indústrias de destruição e reconstrução. E o crescimento populacional vem sendo exponencial, pois segundo a ONU já somos mais de 7 bilhões de pessoas, com projeção para 9 bilhões em 2050.

Espero que a Conferência de Paris venha a ser o ponto de inflexão. Que tanto os líderes mundiais como a sociedade possam de fato pactuar uma agenda positiva para o meio ambiente. Mais atenção deve ser dispensada aos dados colhidos pelos cientistas do Ártico, para o futuro da humanidade e da vida no planeta.

Raimundo Nonato Brabo Alves é Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

REFERÊNCIAS RECOMENDADAS



Publicado no Portal EcoDebate, 15/06/2015

terça-feira, 9 de junho de 2015

MPF/MG consegue demolição de construções irregulares em APPs, às margens de reservatórios


Em pouco mais de seis meses, MPF obteve 23 sentenças punindo pessoas que construíram casas de veraneio às margens de rios. Ibama também foi condenado por omitir-se na fiscalização

Apenas no mês de maio, o Ministério Público Federal (MPF) obteve mais 11 decisões judiciais, sendo 10 em Uberaba e 1 em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, obrigando a demolição de construções erguidas irregularmente às margens de reservatórios de usinas hidrelétricas.

Os proprietários foram obrigados judicialmente a demolir e recolher os entulhos resultantes da demolição, e a recuperar ambientalmente as áreas degradadas por suas intervenções.

Nas decisões proferidas pela Justiça Federal de Uberaba, os réus ainda terão de pagar indenização por danos materiais coletivos, com valores fixados entre R$ 20 e 40 mil. E caso não cumpram a ordem judicial, o próprio MPF foi autorizado a promover a demolição e a recuperação ambiental das respectivas áreas, com os custos desse trabalho pagos pelos condenados.

Resultados – Em pouco mais de seis meses, de outubro de 2014 até maio deste ano, foram proferidas no total 23 sentenças em ações semelhantes ajuizadas pelo MPF naquela região do estado, onde é comum a construção de casas de veraneio às margens do rio Grande, no curso do qual, na região sul do triângulo mineiro, estão instaladas sete usinas hidrelétricas (Estreito, Jaguara, Igarapava, Volta Grande, Porto Colômbia, Marimbondo, e Água Vermelha). As decisões abrangem imóveis situados em diversos municípios, como Frutal/MG (Estância Seneville e “Praião”), Planura/MG (Loteamento Águas da Bagagem), Água Comprida/MG (Recanto dos Colibris), Conceição das Alagoas/MG (Chácaras do Lago) e Uberaba/MG (Recanto do Lago e área da “Melancia”).

Na ação que tramitou em Uberlândia (ACP 8816023.2012.4.01.3800), as irregularidades foram praticadas pelo dono da Fazenda Duas Pontes, que dividiu a propriedade para implantação do loteamento Chácaras Diamante, às margens do lago da Usina Hidrelétrica de Itumbiara, na zona rural do município de Araguari/MG.

Para o MPF, as decisões confirmam o entendimento de que as intervenções antrópicas feitas às margens de rios, em especial nas terras desapropriadas pela União para formar o que se chama de quota de inundação máxima do reservatório de usinas hidrelétricas, assim como na área de preservação permanente destinada a protegê-lo (faixa de 100 metros em projeção horizontal), são irregulares e devem ser demolidas.

Isso porque, em primeiro lugar, a legislação ambiental proíbe qualquer tipo de intervenção não autorizada na faixa de cem metros dos lagos artificiais situados em área rural. E embora o novo Código Florestal tenha reduzido as áreas de preservação permanente situadas no entorno dos reservatórios, o Judiciário de primeira instância vem reconhecendo incidentalmente e declarando a inconstitucionalidade do seu artigo 62, por entender que ele violou os artigos 1º, III; 3º, I e 225 da Constituição da República, que compreendem, em especial, o princípio da vedação ao retrocesso ecológico.

Em segundo lugar, os efeitos resultantes das construções nessas áreas afetam gravemente o ecossistema, como bem descreveram peritos ambientais ao vistoriarem o loteamento implantado na Fazenda Duas Pontes, em Araguari/MG.

Segundo eles, ainda que os danos sejam pontuais e seus efeitos localizados, o impacto coletivo “não é desprezível, face aos efeitos sinérgicos da utilização individual dos lotes sobre o reservatório da UHE e sua APP, todos utilizadores de recursos naturais como água de poços, produtores de esgoto doméstico e lixo, introdutores de espécies vegetais exóticas (frutíferas e ornamentais), as quais podem ser potencialmente competidoras das espécies vegetais nativas e afetar a fauna, positiva ou negativamente. Não se pode esquecer que as casas e as áreas de solo impermeabilizado por cimento, pisos cerâmicos e pedras ornamentais das chácaras/lotes ocupados reduzem a infiltração de água no solo e aumentam o escoamento superficial, promovendo aumento pontual da erosão e do risco de assoreamento do reservatório, além de diminuição da vazão hídrica no período da estiagem e aumento no período chuvoso. A esses efeitos sobre o meio físico, acrescenta-se os efeitos econômicos, pois o carreamento e posterior acúmulo de sedimentos no leito do reservatório gera risco de, a longo prazo, reduzir o volume de água disponível para geração de energia, ocasionando diminuição do tempo de vida útil da UHE”.

Por isso, como destacaram as sentenças proferidas pela Justiça Federal de Uberaba, “o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado foi erigido na categoria de direito fundamental, não podendo, em qualquer hipótese, ser analisado sob o prisma individualista em detrimento do interesse coletivo”.

Outro ponto em comum nas decisões em Uberaba/MG foi a condenação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) por omissão. Para os juízes, como a lei consagra a responsabilidade solidária entre o causador direto e o indireto da atividade degradatória, ao deixar de fiscalizar efetivamente para evitar os danos ambientais, o Ibama contribuiu para a sua ocorrência, devendo ser responsabilizado, inclusive na obrigação de indenizar os danos morais coletivos.

Ilegalidades urbanísticas

Como a ocupação irregular das margens dos rios e reservatórios acaba sendo incentivada pelas próprias prefeituras municipais, que promovem alterações legislativas transformando áreas rurais em urbanas para fins de parcelamento do solo, em fevereiro deste ano, o MPF em Uberaba/MG, em conjunto com o Ministério Público de Minas Gerais, expediu recomendação a 13 municípios da região para que eles não mais autorizem a instalação de empreendimentos em áreas de preservação permanente situadas às margens de rios e de reservatórios de usinas hidrelétricas.

A recomendação foi expedida aos municípios de Água Comprida, Campina Verde, Conceição das Alagoas, Conquista, Delta, Fronteira, Frutal, Itapagipe, Iturama, Planura, Sacramento, São Francisco de Sales e Uberaba.

Inconstitucionalidade no Supremo

Em janeiro de 2013, a Procuradoria Geral da República (PGR) ajuizou três Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs 4901, 4902 e 4903), com pedidos de liminar, no Supremo Tribunal Federal (STF), questionando dispositivos do novo Código Florestal brasileiro (Lei 12.651/12) relacionados às áreas de preservação permanente, à redução da reserva legal e também à anistia para quem promove degradação ambiental.

Nas ações, a PGR pediu liminarmente a suspensão da eficácia dos dispositivos questionados até o julgamento do mérito da questão. Também foi pedida a adoção do chamado “rito abreviado”, o que permite o julgamento das liminares diretamente pelo plenário do STF em razão da relevância da matéria.

Dois anos depois, tanto o pedido de liminar, quanto as próprias ações, continuam aguardando julgamento.

Informe do Ministério Público Federal em Minas Gerais, publicado no Portal EcoDebate, 09/06/2015

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Lixo Urbano, desafios e oportunidades, por Daniele Bertges Anjo e Zita Ana Lago Rodrigues


LIXO URBANO: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E SUSTENTÁVEL DAS CIDADES BRASILEIRAS

Daniele Bertges Anjo1

Zita Ana Lago Rodrigues2

RESUMO

A gestão do lixo urbano é um problema que não pode mais ser ignorado pelos gestores públicos municipais brasileiros. Após a promulgação da Lei Federal 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), e a determinação legal de que 2014 é o prazo final para que lixões a céu aberto deixem de existir no Brasil, a realidade que encontramos é que ainda há muitos desafios a serem vencidos. São encontrados desde Municípios que sequer possuem local adequado para destinar seus resíduos sólidos àqueles cujos planos de gerenciamento incluem técnicas como a reciclagem. A conscientização de que a geração de resíduos sólidos e sua destinação correta é responsabilidade de todos, pode ser a chave para mudar esse quadro e melhorar a qualidade de vida, como também aspectos sociais e econômicos das cidades.

Palavras-chave: Resíduos sólidos. Sustentabilidade. Cidadania. Reciclagem

________________________________

1UFRRJ,MBA Administração Pública e Gerência de Cidades

2Centro Universitário Uninter, Professora Universitária, Doutora em Educação

INTRODUÇÃO

Costumamos usar a palavra lixo como sinônimo para tudo que não presta, não tem serventia, é desagradável, aquilo que queremos ver longe de nós. Esta ideia do lixo, faz com que as pessoas, de um modo geral queiram se livrar, a qualquer custo daquilo que não lhe serve mais, não importando se para isso vão poluir as ruas, as cidades, os rios, as nascentes…etc. Temos a falsa impressão de que nos livrando desse lixo em nossas casas, estaremos livre do mal que ele acarreta, apenas por estar longe do alcance de nossos olhos. Para quê me preocupar com o que acontece depois que eu coloco o meu lixo para ser recolhido pela Prefeitura, para onde ele vai, que destino ele vai ter? Isso não é problema meu. Muitos podem dizer. Ninguém quer saber se ele está tendo tratamento adequado, se está sendo depositado em encostas de rios, se o chorume produzido está escoando em algum manancial de água, que muitas vezes serve para abastecer o nosso próprio consumo diário.

A atividade econômica, seja ela industrial ou comercial, também causa grandes impactos na geração de resíduos, como todas as atividades humanas. No entanto, com as novas exigências da sustentabilidade, as empresas devem buscar que esse impacto seja o menor possível. A natureza não pode ser vista de forma mercadológica, servindo apenas como fonte de recursos, muitas vezes não-renováveis, a serem utilizados nos processos produtivos das organizações.

Resíduos sólidos constituem aquilo que genericamente se chama lixo: materiais sólidos considerados sem utilidade, supérfluos ou perigosos, gerados pela atividade humana, e que devem ser descartados ou eliminados.(Wikipédiahttp://pt.wikipedia.org)

Ou como define o artigo 3º, Inciso XV da Lei 12305/10 –

“…os resíduos sólidos que depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada, que seria a disposição em aterros sanitários.”

Atualmente, o assunto lixo deixou de ser do interesse apenas de ambientalistas, como também de alguns políticos demagogos, que o utilizam como slogan para se autopromoverem, porém sem ações concretas para tornar possível a redução em quase sua totalidade dos resíduos sólidos produzidos pelo ser humano.

O lixo é um crônico problema de saúde pública, silencioso, que pode trazer consequências desastrosas ao meio ambiente, mas muitos não querem ver. Não só o lixo, mas as pessoas que trabalham com esses resíduos, sejam os catadores de materiais recicláveis, como também os garis, da limpeza pública, são invisíveis. Essas pessoas trabalham silenciosamente, fazem a tarefa que ninguém mais quer fazer, limpar a sujeira alheia. Mas como tudo aquilo que é essencial, é invisível para os olhos, basta um só dia, sem que esse trabalho seja feito para se instalar o caos. Temos vários exemplos recentes, como por exemplo, a greve dos garis na cidade do Rio de Janeiro, cujo transtorno causado foi transmitido em várias redes de TV, a nível nacional.

O lixo residencial, por exemplo, é formado, em cerca de 53,03% por resíduos orgânicos, ou seja, restos de alimentos e resíduos de origem animal e vegetal.(Plano Estadual de Resíduos Sólidos do Estado do Rio de Janeiro, 2013, p. 31). Esse tipo de lixo se decompõe de maneira natural, porém se for depositado com outros materiais, como geralmente é feito, além de contaminá-los, produz, principalmente em locais de clima quente, como é o caso do Brasil, rapidamente um líquido, o chorume, gases tóxicos e se torna o ambiente favorável para a proliferação de agentes patogênicos. Esse material atrai uma série de insetos e animais em busca de alimentos, que se transformam em vetores para os mais variados tipos de doenças.

Além do problema ambiental, temos o problema social, daqueles que têm no lixo a fonte de sobrevivência da sua família. Catadores, pessoas que convivem nesse ambiente insalubre, colocam em risco sua vida em troca de uma remuneração baixíssima, em comparação com o benefício ambiental que trazem. Mas se ainda tem utilidade, porque o lixo ainda é tratado como tal?

O lixo é mais do que parecer ser. O lixo é matéria prima fora do lugar. A forma com que uma sociedade trata do seu lixo, dos seus velhos, dos meninos de rua e dos doentes mentais atesta o seu grau de civilização.(Grippi, 2006, Prefácio)

O objetivo deste trabalho é:


investigar os benefícios da gestão integrada dos resíduos sólidos;


questionar de que maneira a governança dos resíduos sólidos pode resolver os problemas ambientais decorrentes do descarte incorreto;


estudar como a utilização da matéria prima, muitas vezes erroneamente descartada_ por falta de quem a aproveite_ pode trazer benefícios econômicos; seja pela venda de materiais recicláveis; seja por inserir esses materiais novamente no mercado;


entender como a PNRS permite a inserção no mercado de trabalho, de todos os agentes envolvidos no processo de reciclagem, como por exemplo, os catadores, com uma remuneração digna, a serem reconhecidos pelo trabalho ambiental que exercem.

Como podemos perceber, muito pode ser ganho se com a mudança de prioridades em favor do meio ambiente, através da educação ambiental, transformando o que hoje se considera problema em recursos verdadeiramente aproveitados.Como estudo de caso, temos dois exemplos, o primeiro, a cidade de Paraty, localizada na região sul fluminense do Estado do Rio de Janeiro, pois a mesma possui características singulares, tais como, grande parte de seu território pertencente à área de preservação ambiental, crescimento populacional em virtude do grande número de eventos realizados durante o ano, que atrai milhares de pessoas, gerando grande número de resíduos

produzidos. Em contrapartida, uma extensa área verde, de valor imensurável que encontra seu ecossistema vulnerável e exposto à contaminação, em razão do tratamento inadequado de seus resíduos. E o segundo, a cidade de Lages, em Santa Catarina, pelo excelente resultado obtido com a implantação de Projeto de Compostagem.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1.RESÍDUO SÓLIDO, o conhecido lixo

Podemos classificá-lo como:


Lixo domiciliar ou residencial – Aquele que é produzido pelas pessoas em suas residências, geralmente é formado por restos de alimentos, jornais, revistas, embalagens etc. Vale destacar que grande parte do lixo residencial é orgânico (tem origem animal ou vegetal).


Lixo comercial – Gerado pelo setor comercial, é formado em geral por papéis e plásticos de vários grupos.


Lixo público – Aquele restante dos serviços de limpeza pública, tais como, varrição, capina e etc.


Lixo hospitalar –Resultado da manipulação em serviços de saúde, tais como seringas, agulhas, luvas e etc. Ressalta-se a necessidade de descarte em local adequado, devido à sua alta toxidade.


Lixo especial – São resíduos encontrados em portos, aeroportos, terminais rodoviários ou ferroviários. Podem conter agentes patogênicos, oriundos de um quadro de endemia de outro lugar. (Grippi, 2006. p. 25)


Lixo industrial – oriundo de atividades industriais, é bastante variado devidos aos diversos tipos de produtos utilizados.


Lixo agrícola – formado por resíduos provenientes da agricultura e pecuária, também merecem atenção especial ao descarte, inclusive em relação às embalagens dos agroquímicos devido à alta toxidade das mesmas.


Resíduos de Logística Reversa obrigatória (descritos no art. 33 da PNRS)-Agrotóxicos e suas embalagens; Pilhas e Baterias; Pneus; Óleos lubrificantes seus resíduos e embalagens; Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; Produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

Se verificarmos separadamente cada tipo de lixo, vamos encontrar inúmeras possibilidades de reutilização de acordo com a classificação dos mesmos, excluindo aqueles que são considerados tóxicos, que deverão naturalmente ter sua destinação final de acordo com a legislação.

2.2 – Resíduos Sólidos, de quem é a responsabilidade?

De acordo com o IBGE, de 1989 a 2000, a população brasileira aumentou 16% enquanto a quantidade de lixo coletada no mesmo período aumentou 56%. (wikipedia.org.br)

Segundo a PNRS (Lei 12305/10), a responsabilidade relativa à coleta e a destinação dos resíduos sólidos cabe às Prefeituras Municipais. Porém, ao mesmo tempo a PNRS salienta a responsabilidade pós-consumo dos fabricantes e importadores, através do princípio do poluidor pagador.

2.3- Legislação sobre o Tema

No âmbito do Estado do Rio de Janeiro, a gestão dos resíduos sólidos urbanos é regulamentada pelas leis:


12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal);


11.445/2007 – Lei de Diretrizes Nacionais para o Saneamento Básico;


11.105/2005 – Lei de Consórcios Públicos e seus decretos regulamentadores;


4.191/2003 – Política Estadual de Resíduos Sólidos (Lei Estadual);

2.3.Exemplo do Município de Paraty/RJ.

– Dados populacionais e Quantidade de Resíduos gerados

De acordo com o Censo de 2010 do IBGE, o Município de Paraty, possui 37.533 habitantes. Esse número é referente aos moradores do Município, ou seja, a população fixa. Porém não está incluída a população flutuante, ou seja, aquela que frequenta o Município, quer seja pelo turismo, ou para participar de eventos turísticos e culturais que a cidade oferece durante o ano inteiro. O IBGE quantificou uma população flutuante em Paraty da ordem de 21.432 habitantes.Vale mencionar que em 2011 foram programados 42 eventos turísticos-culturais em Paraty, ocupando 179 dias do calendário (Fonte: Secretaria de Turismo e Cultura).(Plano Municipal de Saneamento, 2011. p 06)

Segundo estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a produção diária atual de resíduos sólidos urbanos em Paraty é de aproximadamente 28 toneladas, o que equivale a 0,688 kg/hab. Dia. Já os resíduos dos serviços de saúde provenientes do distrito sede e dos núcleos urbanos isolados, produzidos por hospitais, clínicas, farmácias, etc., são pesados na coleta e totalizam cerca de 300 kg/semana. (Plano Municipal de Saneamento, 2011. p 06)

2.4 – A realidade do Lixo em Paraty

A coleta dos resíduos sólidos de Paraty é feita atualmente pela empresa Locanty Comércio e Serviços Ltda e dispostos no aterro de Ariró, que fica no Município de Angra dos Reis/RJ.

O aterro da Locanty funciona de forma irregular, por não ter tido aprovação de sua licença pelo INEA, e se encontra em estado de calamidade pública, no que diz respeito ao vazamento de chorume no Rio Vermelho, afluente do Rio Ariró.

Na localidade da Boa Vista, há um lixão, formado por muitos anos de destinação inadequada do lixo, anteriormente ao local atual, onde se encontra aproximadamente 80 mil toneladas de resíduos. Neste local existe um grupo de 25 trabalhadores, em condições de trabalho insalubres e destituídas de contrato formal e seguridade social. Nessas condições é desenvolvido um trabalho apreciável de catação, enfardamento e venda de recicláveis.(PMSB, 2013, p.11)

2.5– Os principais problemas

Um dos problemas do lixo de Paraty ser depositado no Município de Angra dos Reis, no aterro sanitário da empresa Locanty, é o fato de que é essa mesma empresa que possui contrato com a administração municipal para executar os serviços de limpeza, coleta e disposição final deste lixo. E este contrato, inclusive tem seu término previsto para o ano de 2014.

Outro problema seria a possibilidade do Município de Angra dos Reis vir a embargar a disposição do lixo de Paraty em seu território. Isso resultaria em um problema ambiental e de saúde pública que poderia exigir solução pela via judicial. (PMSB, 2013, p. 12)

O Municipio de Paraty possui pelo menos dois terços de suas terras localizadas em áreas de preservação ambiental e, devido a esse fato, está sujeito às restrições legais de uso e ocupação do solo. (PMSB, 2013, p. 14)

Desta forma, a busca por uma área adequada para a instalação de um aterro sanitário dentro das determinações legais, fica sobremaneira prejudicada.

2.6 – A busca de soluções

De acordo com o programa Lixão Zero, do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Coordenado pela Secretaria de Estado do Ambiente (SEA), a meta é erradicar até 2014, todos os lixões municipais existentes _ com as 92 cidades fluminenses passando a destacar os resíduos sólidos em aterros sanitários, alguns deles com plantas de aproveitamento energético, ou seja, transformando em energia o gás metano gerado pela decomposição do lixo. (SEA, Projetos e Programas, Lixão Zero)

O Programa de Compra de lixo tratado, realizado pela SEA, busca realizar um convênio com os Municípios que ainda possuem lixões em atividade, onde são repassados temporariamente recursos da ordem de R$ 20 por tonelada de resíduos sólidos urbano destinada a aterro sanitário licenciado após o encerramento dos lixões. Em contrapartida, são cobrados dos municípios o atendimento às metas relacionadas à coleta seletiva, um Plano Municipal de Resíduos, a remediação de lixões e a implantação de taxa de manejo de resíduos, dentre outras ações.(SEA, Projetos e Programas, Lixão Zero)

O Projeto Paraty Recicla, está em fase de implantação pela Prefeitura de Paraty, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (SEDUMA), com alguns parceiros externos, como a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITPC) da COPPE/UFRJ., cujo objeto é a implantação da Coleta Seletiva Solidária, e os materiais recicláveis serão destinados a uma Cooperativa de Catadores a ser constituída.

O Projeto Cataforte, também está sendo desenvolvido pela ITPC, e prevê a capacitação de catadores, cujo objetivo é a integração dos mesmos à economia formal por meio de cooperativa. A coleta seletiva se realizada adequadamente também habilitará a Prefeitura a participar do programa “Compra de Lixo Tratado” da Secretaria Estadual de Ambiente. (PMSB, 2013, p. 08)

2.4 – Exemplos de sucesso


Município de Lages – Santa Catarina/RS

2.4.1 – Dados populacionais e Quantidade de Resíduos gerados

Lages-SC possui 160 mil habitantes, a cidade produz aproximadamente 2000 toneladas de lixo por mês, que vão para o aterro sanitário. Entre 55 a 60% é deste lixo é orgânico (mais de 1100 toneladas).Das mais de 900 toneladas mensais restantes, 700 toneladas (até 37% do total) poderiam ser recicladas, se não forem misturadas com o lixo orgânico. (Dados fornecidos pelo Programa Lixo Orgânico Zero, Lages/SC)

A prefeitura de Lages paga cerca de R$ 200,00 para recolher e depositar cada tonelada de lixo e nesta tonelada vão junto mais R$ 100,00 em materiais recicláveis. São mais de R$ 2.000.000,00 por ano que poderiam ir para o bolso dos catadores, que são cerca de 500 em Lages. O custo total da prefeitura é de cerca de R$ 5 milhões por ano. E todo ano este valor aumenta. Somente o custo para recolher e depositar o lixo orgânico no aterro sanitário chega a R$ 2,6 milhões por ano.

2.5 – O Programa Lixo Orgânico Zero

Em atenção a esses problemas, surgiu em 2012, um projeto em Lages, que apresentava solução para um dos principais problemas ambientais da cidade, o lixo orgânico. Grande parte das escolas municipais aderiu ao programa Lixo Orgânico Zero proposto pelo Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).

O Projeto apresenta uma maneira sustentável de reduzir consideravelmente o lixo orgânico produzido nas residências, escolas e instituições através da confecção da chamada Mini Compostagem Ecológica (MCE). De acordo com o professor do CAV e idealizador do projeto, Germano Güttler, trata-se de uma estrutura fácil de fazer que acomodará todo o lixo orgânico, que irá se decompor e se transformar em adubo, sem liberação de chorume e cheiro ruim, e que poderá ser utilizado em hortas, pomares ou jardins.(www.lages.sc.gov.br)

Segundo o Professor Germano, o lixo orgânico é o maior problema ambiental da cidade e nada estava sendo feito para que isto fosse resolvido. O lixo orgânico representa (em peso) cerca de 52% de todo lixo produzido no Brasil. Em Lages está entre 55 a 60%.

Este tipo de lixo não tem mercado, não tem preço, ninguém quer recolher para reciclar e rapidamente produz chorume e odor muito forte e desagradável, principalmente em climas quentes, como é o caso em quase todo o Brasil.Quando é misturado com o restante do lixo, nas residências, torna-se o principal responsável pela inviabilização da reciclagem dos diversos materiais encontrados no restante do lixo. No Brasil aproximadamente 85 a 90% do lixo é misturado ao lixo orgânico, sem qualquer separação.

A intenção do grupo, formado por professores e acadêmicos dos cursos de agronomia, engenharia florestal e engenharia ambiental, é disseminar a ideia e fazer com que todo cidadão consiga eliminar por completo o lixo orgânico produzido na cidade. “Quando falamos em eliminar significa destruir o material no próprio local de consumo através da compostagem, dispensando o serviço público de coleta para este tipo de lixo. Além disso, esta prática viabiliza a reciclagem, pois os outros resíduos (papéis, plásticos, metais) não serão contaminados com o lixo orgânico”, explica Germano.(www.lages.sc.gov.br)

Segundo o professor, o trabalho do grupo permitirá chegar neste resultado (retirar o resíduo orgânico do circuito do lixo), foi a criação da Mini Compostagem Ecológica (MCE). Conseguiram simplificar ao máximo o processo de compostagem e acrescentar uma série de vantagens para quem quer fazer uma horta ou cultivar plantas ornamentais, que vão além da simples produção de um adubo orgânico. Qualquer sistema, método ou tecnologia de compostagem que somente produza um adubo orgânico, será útil somente para quem tem o hábito de cultivar hortas e jardins e dificilmente mais do que 15 a 20% da população.

As compostagens tradicionais são realizadas em pilhas de materiais misturados em locais isolados, onde se concentra o lixo orgânico que, após cerca de 3 meses, o adubo está pronto.

Porém, a MCE, além de simples e barata, pode ser implantada em espaços muito reduzidos no solo e até mesmo como jardim vertical (jardim suspenso) em muros e paredes. Pode ser instalado em locais pavimentados (pátios, varandas, calçadas e coberturas de prédios) e necessita somente que ocorra incidência solar por no mínimo 5 horas por dia. 
Além da destruição total do lixo orgânico, resulta na produção de hortaliças (ou flores) de alta qualidade, sem uso de agrotóxicos ou qualquer tipo de adubo. E também já está se desenvolvendo sistema alternativo que pode ser feito totalmente “no escuro” indicado para garagens de grandes prédios e condomínios. O aproveitamento que estamos propondo para o lixo orgânico, diretamente sobre qualquer canteiro, ou recipiente (vasos), de produção de hortaliças ou flores é:


– De fácil execução;

– Utiliza pouca mão-de-obra;

– Apresenta baixo custo;

– É ecológico e sustentável;

– Utiliza pouquíssima água para o crescimento das plantas (reduz em 60 a 80% o uso de água);

– Permite a destruição de grandes quantidades de lixo em pequenas áreas;

– É considerado, por muitas merendeiras das escolas de Lages, mais fácil do que colocar o lixo na calçada;

– Tem potencial para eliminar 100% do lixo orgânico de Lages em uma área total (somando todas MCEs de Lages) inferior a 40.000 m2 ( Ou cerca de 0,25 m2 por habitante).

3.6 – Resultados obtidos

Resultados obtidos no programa Lixo Orgânico Zero em Lages-SC em pouco mais de um ano de trabalho:


Foram instaladas MCEs em mais de 40 escolas da cidade de Lages. Em várias destas escolas os professores, funcionários e alunos já estão levando esta prática para suas residências. 100% das 25 escolas estaduais já adotaram o projeto.


As Secretarias Municipais da Educação, da Saúde, do Meio Ambiente e a Gerência Regional de Educação (GERED) já incluíram o Programa Lixo Orgânico Zero dentro das metas destas Instituições. Vários postos de saúde e Centros de Referência e Assistência Social
(CRAS) já instalaram MCEs demonstrativas.


O Consórcio Intermunicipal de Saneamento Básico e Meio Ambiente (CISAMA) que envolve 17 municípios do Planalto Sul Catarinense deverá incluir a prática das MCEs no seu gerenciamento de resíduos sólidos urbanos.


Estima-se que mais de 500 MCEs já foram instaladas na cidade de Lages, reduzindo diariamente em até 1000 kg de resíduos orgânicos no montante do lixo recolhido pela prefeitura.


Esta redução pode estar gerando uma economia anual em torno de R$ 40.000,00 a R$ 50.000,00 para a Prefeitura de Lages e permite um aumento na reciclagem em torno de R$ 20.000,00, pois uma significativa fração dos demais resíduos sólidos (papel, plástico, metal, etc.) não estão mais contaminadas com lixo orgânico.


O ministério Público de Santa Catarina, através da 13a Promotoria Pública de Lages, aprovou um projeto pelo Fundo para Recuperação de Bens Lesados (FRBL) por um período de 18 meses (nov. 2013 a maio de 2015) para implantação definitiva do Programa Lixo Orgânico ZERO, no valor de mais de R$ 150 mil.

3. – “Pensar Globalmente, Agir Localmente”

O slogan ambientalista usado durante a Conferência Rio-92, chama a atenção para a implantação da Agenda 21 nos Municípios, principalmente no que se refere à elaboração e implantação de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável.

Porém essa não é uma tarefa predominantemente dos órgãos públicos, segundo, o Ministério do Meio Ambiente, tanto os Governos precisam assumir os princípios da sustentabilidade, como eixo estratégico norteador das políticas públicas, quanto os cidadãos precisam mudar hábitos e atitudes. É necessário aprender a reduzir o consumo de água e energia, escolher produtos locais, optar pelo transporte coletivo, gerar menos lixo, etc..(Caderno de Debate, Agenda 21 e Sustentabilidade, p. 06)

Segundo o economista e sociólogo da USP, Ricardo Abromovay, “O Brasil possui uma sociedade que joga fora, não recicla.” É necessária a mudança de mentalidade de que o lixo agora, é um problema de todos. Seja através da prática da reciclagem, ou através do consumo consciente.

4. – Profissão, Catador

Rispah Besen, doutora em saúde pública, defende o reconhecimento e a valorização dos catadores de lixo no Brasil. Segundo ela, a maior parte do material reciclável coletado hoje é realizada por eles. “Os catadores precisam ser remunerados dignamente pelo serviço prestado”.

Eles fazem um trabalho que é constitucionalmente do governo local, e não recebem nada do governo em troca. São geralmente pessoas de pouca ou nenhuma instrução, mulheres e até mesmo crianças, que estão espalhadas pelas ruas, na maioria das grandes cidades, onde são crescentes os números do desemprego.

Estas pessoas, às vezes famílias inteiras sobrevivem de um trabalho árduo, muito pouco reconhecido, em condições precárias, em uma vida miserável, retirando, muitas vezes do lixo o seu alimento. Esse é um problema social, pois vivem em uma realidade de exclusão, sem expectativa de um futuro de dignidade e cidadania.

O Artigo 57, da Lei 11.445/2007 prevê a Dispensa de licitação para a contratação pelo Poder público de associações ou cooperativas de catadores.

Mas é preciso mais do que isso, é preciso que se desenvolva políticas públicas que incentivem essa prática, legalizem os catadores, que se unam através de cooperativas, que haja um trabalho multidisciplinar para socializar essas pessoas que vivem à margem da sociedade, e transformar o seu trabalho em algo digno e reconhecido.

Uma boa notícia é a de que o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) estabeleceu, no final de abril, uma parceria com a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRio) para negociar os créditos de logística reversa de embalagens no país.

Os créditos serão distribuídos para os catadores devidamente cadastrados pela BVRio. Os valores e a quantidade deles dependerão da quantidade e tipos de materiais recolhidos por esses trabalhadores. Esses créditos poderão ser vendidos aos fabricantes que precisam cumprir o que determina a PNRS. Para o presidente-executivo da BVRio Pedro Moura Costa “é uma forma eficiente e transparente de implementar a logística reversa, além de contribuir de forma não assistencialista ao desenvolvimento das cooperativas de catadores”.

Assim, os nossos catadores de rua sairão da clandestinidade para serem finalmente reconhecidos como prestadores de serviços ambientais. E serão pagos dignamente por isso. www.planetasustentavel.abril.com.br

5. CONCLUSÃO

Um conceito muito utilizado quando se visa a sustentabilidade na gestão integrada dos resíduos urbanos, são os 3R’s: Reduzir, Reutilizar e Reciclar.www.ufrgs.br/sustentabilidade/p.235

A grande recompensa quando se utiliza esse conceito está no fato de não haver desperdício de recursos naturais, haverá um impacto menor na geração de novos produtos, além de reduzir o volume de resíduo que contaminará o meio ambiente. Os benefícios econômicos podem ser mensurados, por exemplo, quando se reutiliza os materiais recicláveis para a produção de novos produtos.

Porém para obter sucesso, esse envolvimento deve ser feito por toda a sociedade, sejam empresas, governo, cidadãos. Várias esferas da sociedade podem ser beneficiadas quando se integram diferentes atores no processo de gerenciamento dos resíduos sólidos. Desde a geração de emprego e renda aos trabalhadores que estão direta e indiretamente ligados as atividades de prestação de serviços ou indústria de reciclagem, passando por empresas e cooperativas de reciclagem, por programas de educação ambiental, por ONGs e outras organizações que promovem a ética, o desenvolvimento sustentável e a proteção do meio ambiente, todos são beneficiados pela adoção desta medida.

A Reciclagem tem um papel muito importante no desenvolvimento sustentável. E depende de cada um de nós para se ter resultado. O problema é que o ser humano vive em um mundo de recursos naturais finito. Estamos vivendo em um estado crítico, onde o preocupante crescimento populacional, o desenvolvimento tecnológico, aliado ao consumo desenfreado, além do mercado capitalista, contribuem para que produzamos montanhas de resíduos sem termos ideia da destinação final dos mesmos.

O impacto disso tudo no meio ambiente nós já conhecemos, ar e água poluídos, alimentos contaminados por agrotóxicos e outros tipos de poluição que afetam a qualidade de vida neste planeta. Nesse contexto, a educação ambiental é indispensável para a criação da consciência ecológica, aquela que começa em casa. É preciso começar pelas crianças, nas escolas, elas serão as multiplicadoras dessa visão. Além de se tornarem adultos conscientes para a importância dos 3R’s, fundamental para a sobrevivência não só do ser humano, mas de todas as espécies.

O Brasil, em especial, tem um diferencial, tem hoje uma oportunidade única de assumir a liderança neste modelo de desenvolvimento sustentável que o mundo persegue e foi discutido na Rio + 20. As comunidades indígenas existentes no Brasil tem um conhecimento ancestral de sobrevivência e relacionamento com o meio ambiente, sem exploração, desmatamento, degradação e destruição das espécies, tendo em vista sua sabedoria em relação à preservação da natureza.

Vale lembrar que o nosso papel como cidadão não termina na fronteira da porta da nossa casa. Como uma gota d’água no oceano, cada um deve fazer a sua parte. A atitude pró-ativa, de cobrar, em vez de ser mero espectador, de ir em busca de soluções para o seu bairro, ou cidade, ou País, é o que precisamos ter. A participação social nos processos decisórios, ou até mesmo na elaboração de projetos, pode ter grande impacto nos resultados que queremos para a nossa comunidade.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, Ricardo, Juliana Simões Speranza, Cécile Petitgand, Lixo Zero – Gestão de resíduos sólidos para uma sociedade mais próspera – São Paulo: Planeta sustentável – Instituto Ethos, 2013

GRIPPI, Sidney . Lixo: reciclagem e sua história: guia para as prefeituras brasileiras/ Sidney Grippi- 2. Ed – Rio de Janeiro: Interciência, 2006

Lei Estadual nº 4.191 de 30/09/2003 – Plano Estadual de Resíduos Sólidos do Estado do Rio de Janeiro, 2013)

Lei Federal nº 12.305 de 02/08/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos;

Prefeitura Municipal de Paraty – Secretaria de Turismo e Cultura. Plano Municipal de Saneamento Básico – PMSB, 2011.

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Resíduo_sólido> Acesso em 10 de abril de 2014

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Catador_de_material_reciclável> Acesso em 12 de abril de 2014

<http://www.rj.gov.br/web/sea/exibeconteudo?article-id=330838Resíduo_sólido> Acesso em 12 de abril de 2014

<www.lages.sc.gov.br/site_novo/noticias.php?id_noticia=1796> Acesso em 20 de abril de 2014

<www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/caderno_verde.pdf> Acesso em 23 de abril de 2014


<www.ufrgs.br/sustentabilidade> Acesso em 11 de maio de 2014

Publicado no Portal EcoDebate, 03/06/2015