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terça-feira, 19 de junho de 2012

Prefeito de “cidade verde” diz que a Rio+20 deveria focar em cidades


Se tem alguém que pode ensinar muito sobre sustentabilidade na Rio+20 é o prefeito de Vitória-Gasteiz, no País Basco, Javier Maroto. A cidade foi escolhida a “capital verde da Europa” em 2012. Para ele, o tema deve ser discutido a partir das cidades e não em âmbito supranacional como está ocorrendo na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.

“É necessário que as cidades tenham uma papel muito mais protagonista. Uma das questões que mais devem mudar é que as decisões que se tomam em grandes órgãos supranacionais não sejam tomadas ali e levadas para as cidades”, opinou Maroto. “As cidades é que tem de dizer que procedimentos precisam e podem tomar. É uma forma que poderia fazer a Rio+20 diferente e poderia ter transformado também o protocolo de Kyoto, que hoje não é cumprido por várias potências”, acrescentou.

Ciente das cobranças dos países em desenvolvimento por comprometimento das nações ricas neste momento de crise econômica, o prefeito defende que sustentabilidade, na Europa, já é assunto obrigatório. “Não é uma opção, mas sim uma obrigação. Mais do que nunca é necessário fazer mais com menos. Não se pode fazer um planeta mais sustentável se as cidades não estão incluídas nisso. Mais de 80% das pessoas estão nas cidades hoje em dia”, observou o prefeito.

No governo de Vitória-Gasteiz há um ano, Maroto divide os méritos do reconhecimento da cidade como exemplo de sustentabilidade com os próprios adversários políticos e demais prefeitos que passaram pelo poder. “Uma cidade não se faz sustentável em quatro ou oito anos. É um projeto a longo prazo. É muito importante que haja unidade política. Na minha cidade, todos os partidos políticos assinaram um acordo de intenções sustentáveis. Se não houvesse isso, não seria possível mudar. É uma trajetória de décadas.”

Para Maroto, outro fator crucial é o comprometimento da sociedade. “É impossível uma cidade se tornar sustentável só com o prefeito e o governo. É necessário que os cidadãos queiram isso. Não se pode aplicar políticas de reciclagem por decreto, se os cidadãos não fizerem seu papel”, explicou o prefeito. “No caso das cidades verdes, temos trabalhado por décadas para conscientizá-los. Hoje eles querem ser verdes”, disse.

Vitória-Gasteiz tem pouco mais de 200 mil habitantes e 99% de seus habitantes moram numa distância de até 300 metros de equipamentos de saúde, educação e de áreas verdes. A cidade também tem feito muitos investimentos para tornar o uso da água mais eficiente e tem ambiciosa meta que o consumo caia para menos de 100 litros por habitante/dia. Há projetos eficazes de gestão de resíduos e de emissão de carbono através da utilização de transporte público e ciclovias. Os primeiros projetos sustentáveis da cidade tomaram forma em 1995, quando Vitória-Gasteiz assumiu compromisso com a agenda 21. (Fonte: Giuliander Carpes/ Portal Terra)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Para ‘criadora’, desenvolvimento sustentável ainda é conceito válido


A ex-primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, ‘criadora’ do conceito de desenvolvimento sustentável, afirmou nesta quinta-feira (14) que as ideias e objetivos elaborados há 25 anos continuam válidos e relevantes, e que o principal desafio está na implementação das medidas e a cooperação entre os países.

Gro Brundtland entrou para a história quando liderou a comissão que apresentou, em 1987, o relatório “O Nosso Futuro Comum”, que introduziu o conceito de desenvolvimento sustentável nas discussões sobre preservação ambiental.

Para ela, as discussões em torno da ‘economia verde’ na Rio+20 não significam necessariamente uma revisão do conceito de desenvolvimento sustentável.

“Esta é uma história complicada. Ainda não há uma definição completa sobre economia verde”, disse em entrevista, após participação no Encontro da Indústria para a Sustentabilidade, que ocorre no Hotel Sofitel, no Rio de Janeiro. “Eu nunca entendi quando alguém fala que a economia verde vai tomar lugar do desenvolvimento sustentável, porque o desenvolvimento sustentável já é algo concordado amplamente”, completou.

Ela lembrou que o termo ‘economia verde’ ainda é controverso e não muito compreendido porque para alguns abrange apenas a integração da economia com o meio ambiente, sem considerar as questões sociais. “Essa não é definitivamente a minha visão. Tem de ser social, ambiental e econômico”, disse.

A ex-ministra destacou também que a ideia de mensurar o crescimento da economia por instrumentos adicionais ao do Produto Interno Bruto (PIB), como indicadores ambientais e sociais, também não é de agora e foi defendida durante a elaboração do relatório de 1987.

“25 anos depois isso ainda não aconteceu”, disse Gro. Ela destacou que se fossem considerados os métodos de utilização dos recursos naturais o crescimento econômico de países como a China seria “bem menor”.

Ela se disse, no entanto, otimista sobre os resultados da Rio+20. “Espero que haja acordos em várias questões, como por exemplo nas discussões em torno da energia limpa para o desenvolvimento sustentável, porque é do interesse de todos e se relaciona diretamente ao social, humano e à economia”, afirmou.

A ex-ministra também apoiou a proposta do G77+China de criar um fundo anual de US$ 30 bilhões para estimular o desenvolvimento sustentável.

“Acho que é uma boa ideia. É importante ter instrumentos financeiros que possam ajudar na mudança de tecnologias e na inovação tecnológica”, afirmou, lembrando que durante a conferência de Copenhague, em 2009, foram iniciadas conversas em torno do tema.

“Em Copenhague houve conversas nessa direção, mas não houve prosseguimento e a crise financeira dificultou. Mas tenho certeza que isso irá progredir aqui no Rio, ainda que talvez não tão bem sucedida quanto deveria”, completou. (Fonte: Darlan Alvarenga/ G1)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Publicação do WWF lista os desafios que ainda ficaram depois de 20 anos da Rio92



O legado deixado pela Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio92) e os desafios que permanecem desde a sua realização, há 20 anos, é o tema da publicação Rio 92, Para Onde Foi? Rio+20, Para Onde Vai?, lançada ontem (13), em evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). O documento traz uma série de entrevistas com especialistas envolvidos nos dois eventos, contendo propostas e ideias sobre questões como o futuro da Amazônia, do Brasil e da América Latina.

Um dos colaboradores da publicação, o embaixador aposentado Flávio Perri, que coordenou a Rio92, destacou que o evento de 20 anos atrás garantiu marcos importantes, como a Convenção sobre Mudanças Climáticas e a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ajudaram o mundo a entender o conceito do desenvolvimento sustentável e a definir metas para alcançá-lo. Ele defende, no entanto, que as nações precisam ser “mais ousadas” em suas propostas atuais.

“Os marcos da Rio92 tiveram desdobramentos importantes. Hoje, por exemplo, não há condições políticas de se discutir desenvolvimento sem incorporar a sustentabilidade, que significa produzir com qualidade tanto para o homem, tendo em vista sua dignidade, quanto para o planeta, que deve ser poupado de exploração excessiva”, afirmou. “Contudo, por mais ousado que qualquer país tenha sido desde então, terá sido pouco ousado. Precisamos agora de muita ousadia”, alertou.

Perri disse, ainda, que a Rio+20 deve ser “visionária” e contribuir para o estabelecimento novos parâmetros de desenvolvimento. “Hoje, medimos o crescimento da economia pelo PIB [Produto Interno Bruto], mas ele é apenas um número desalmado que não traz dados sobre dignidade de vida, se os homens estão sendo atendidos em suas necessidades nesse processo de crescimento, se o modo de organização social está evoluindo para dar maior conforto ao homem sem degradar o meio ambiente”, avaliou.

O líder da Iniciativa Amazônia Viva, da organização não governamental WWF, responsável pela publicação, Claudio Maretti, também define os compromissos assumidos na Rio92 como um marco na história do ambientalismo mundial, mas lamenta que as decisões anunciadas à época não tenham contado com uma “implementação adequada”. Maretti destacou ainda que o principal desafio atualmente é alcançar o equilíbrio entre os estoques de recursos naturais e as possibilidades de oferta.

“Estamos entrando no cheque especial porque consumimos mais recursos naturais do que a Terra, em seus processos ecológicos, é capaz de recompor. Por isso, é fundamental haver o equilíbrio para garantir qualidade de vida, mas sem entrar em dívida”, observou. A publicação está disponível para download no site da rede ambiental WWF.

Reportagem de Thais Leitão, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 14/06/2012

Novo Código Florestal vira assunto na ‘Rio+20 dos cientistas’


A formulação do novo Código Florestal pelo governo brasileiro foi criticada no terceiro dia de uma conferência paralela à Rio+20, que reúne pesquisadores do Brasil e de fora do país, na PUC-Rio.

De acordo com os pesquisadores, o texto que está na geladeira do Congresso até o final da cúpula da ONU coloca espécies brasileiras em risco porque diminuiu áreas florestais.

O documento aprovado pela Câmara e parcialmente vetado pela presidente Dilma Rousseff em maio prevê, dentre outros pontos polêmicos, a anistia a quem tenha desmatado até 2008.

Para Lidia Brito, diretora de política de ciência da Unesco (Organização das Nações Unidas para Ciência, Educação e Cultura), os cientistas brasileiros precisam se posicionar antes que a lei seja aprovada.

“Precisamos brigar agora e não depois que a lei já esteja pronta”, disse Brito.

“A ciência precisa mostrar que tem condição de dar respostas para a formulação de políticas públicas.”

O biólogo americano Tom Lovejoy, que estuda Amazônia há mais de 40 anos, também criticou a nova legislação florestal.

Ele disse que o ideal seria jogar o texto em debate fora e começar tudo de novo, mas que fazer isso agora “não seria uma decisão equilibrada.”

Para a engenheira de pesca Ana Lucia Prates, do MMA (Ministério do Meio Ambiente), o novo código aumenta o risco sofrido pelas espécies brasileiras – inclusive de peixes.

Com menos florestas nas margens dos rios e dos córregos, a possibilidade de assoreamento aumenta e os peixes encontram uma oferta menor de comida nas águas. (Fonte: Sabine Righetti/Folha.com)