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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

As polêmicas da avaliação de impactos ambientais, artigo de Roberto Naime


[EcoDebate] Sempre que realizamos estudos ambientais sistêmicos, procuramos entender todas as relações envolvidas, propriedades emergentes e resultantes possíveis. No entanto, não existem métodos perfeitos de avaliação de impacto ambiental, nem os métodos são perfeitos e nem as pessoas que operam estes métodos são perfeitas, portanto sempre temos que ter a humildade de reconhecer possíveis erros ou carências dos trabalhos.

A própria interação entre os diversos métodos e as diferentes abordagens e dimensões de realizar avaliações de impacto ambiental e as finalidades dos estudos, é que vão determinar o emprego correto dos métodos de análise dos impactos ambientais.

O ex-vice presidente dos Estados Unidos, Al Gore, reconhecido pelo seu interesse nos assuntos ambientais, já em 1993, no seu livro “A terra em balanço” faz uma lista de desequilíbrios e acidentes ecológicos no mundo. Destaca o desaparecimento do Mar Aral, a mortandade de estrelas-do-mar no Mar Branco, ambos na antiga União Soviética, a presença de lixo nos mares do mundo, o aumento dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera que tem a propriedade de causar maior retenção de calor e elevar lentamente a temperatura da terra (o famoso “aquecimento global”).

Ele cita ainda o degelo das calotas polares a extinção de espécies da flora e fauna, a caça predatória de elefantes na África em busca de marfim, o “descolorido” de recifes de coral nos mares devido aos efeitos da temperatura mais alta sobre microrganismos que vivem na película de corais, a destruição dos últimos refúgios naturais de várias espécies e os efeitos de “nuvens luminescentes” causados pela concentração do gás metano na atmosfera.

Por último destaca uma questão de grande controvérsia política e ideológica, resumida no dramático incremento populacional não planejado e profundamente desequilibrado entre as nações e países das diversas regiões do planeta.

Com argumentos variados, parece estar implícito que esta nova realidade de fatos, foi capaz de criar um paradigma, tornando a questão ambiental como uma nova e emergente questão prioritária da humanidade, dentro de um novo entendimento que ressalta a importância das transformações das próprias relações do mundo.

Ainda é difícil analisar toda extensão dos impactos ambientais de forma integrada ou sistêmica no planeta. Esta questão de mudança de paradigmas é muito comum em economia e marketing, onde esta temática é clássica.

Yogi Berri, citado por Al Gore, assevera que “o que nos confunde não é o que não sabemos – são as coisas que tomamos como certas, e que na verdade não o são”. Esta colocação é vital no sentido de que, se precisarmos e quisermos construir um mundo mais justo e equilibrado a partir de um modelo (que sempre é necessário construir antes da implantação de procedimentos físicos ou administrativos, é como uma maquete em arquitetura), pode ser que algumas de nossas premissas não sejam verdadeiras.

Neste sentido, é tocante o exemplo da deriva continental. Por muito tempo foi ridicularizada a ideia de que os continentes se moviam, e hoje é consenso no mundo científico.

É necessária a ideia de que a abordagem do problema ambiental exige uma nova escala de visão dentro de uma concepção sistêmica. A questão ambiental é um novo paradigma não apenas por questões factuais, mas também pela mudança da escala de visão e da forma que as relações precisam ser interpretadas.

Todos os empreendimentos humanos terão resultantes positivas e negativas. O que se procura é sistematizar a intervenção e procurar tornar compatíveis com os meios físicos e biológicos locais, aqueles vetores considerados impactantes. Para que se possa incrementar melhor qualidade ambiental e melhor qualidade de vida às populações afetadas por um empreendimento de qualquer natureza.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Publicado no Portal EcoDebate, 29/01/2015

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