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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Poeira do árido Saara fertiliza a exuberante Amazônia

Vandré Fonseca - 26/02/15
Manaus, AM -- Há cerca de quatro anos, o americano Earl Williams esteve em Manaus em busca de poeira. Ou melhor, da poeira que durante milhares de anos teria atravessado o Atlântico, a partir da Depressão de Bodélé, no Chade, e se depositado no solo da Região Amazônica. Ele vinha de uma grande aventura pelo Deserto do Saara, onde havia feito coletas e pretendia compará-las com um solo amazônico, conhecido como belterra.

Esta história foi contada em ((o))eco, em dezembro de 2010, sem que houvesse ainda um desfecho para a aventura de Williams, que não teve suas idéias recebidas com muita empolgação aqui no Brasil. Mas a história não acabaria ali. Esta semana, um estudo baseado em imagens obtidas por satélites da Nasa ajudam a entender o que, na época, o americano tentava descrever.

A conclusão dos estudos está nas páginas da revista científica Geophysical Research Letters e foi divulgada junto com uma animação produzida pela agência espacial americana. De acordo com a pesquisa, liderada por Hongbin Yu, todos os anos 182 milhões de toneladas de poeira com uma pequena proporção de fósforo são retirados dos vales orientais do Saara. A poeira atravessa mais de 2.500 quilômetros até chegar à América. É o mais longo transporte de poeira pela atmosfera que se tem notícia.

De acordo com o artigo, o fósforo corresponde apenas 0,08% de das 27,7 milhões de toneladas de areia da África que se instala na Amazônia anualmente. Mas é uma quantidade significativa de fertilizante, é o equivalente a tudo em que a região perde desse produto com inundações e chuvas. A maior parte da poeira, porém, não vai para o a região Norte do Brasil. O estudo indica que 132 milhões de toneladas permanecem suspensas no ar. E 43 milhões de toneladas continua a viagem até o Mar do Caribe.

“Nós sabemos que a poeira é muito importante em muitos aspectos. Ela é um componente essencial de sistema global”, afirma Yu. “Poeira pode afetar o clima e, ao mesmo tempo, mudanças climáticas podem afetar a poeira”, completa o pesquisador do O Centro Interdisciplinar de Ciências do Sistema Terra (Essic, na sigla em inglês), mantido pela NASA e pela Universidade de Maryland (EUA).

Os dados foram obtidos a partir de instrumentos a laser do Satélite CALIPSO, entre 2007 e 2013. Os pesquisadores reconhecem que o período estudado ainda é insuficiente para determinar um padrão de transporte dessa poeira. Mas eles afirmam que o resultados são importantes para a compreensão de como os aerossóis, pequenas partículas suspensas no ar, se comportam e como se movem através dos oceanos.

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